EXTREMOZ: POR QUE EU AINDA ACREDITO NO SER HUMANO.

Criticar o serviço público, é um direito. Desde que não funcione adequadamente. Porém, costumeiramente esquecemos de elogiar, quanto estes mesmos serviços são prestados de forma correta. É muito mais cômodo a crítica.

E o que dizer quanto tomamos conhecimento de uma atitude exemplar de servidão, aliada a humildade de ajudar o próximo que naquele momento encontra-se desprovido de qualquer condição? E quando o poder público, por questão de minutos, nega-se a solucionar um problema que é de todos? Principalmente de quem deveria trabalhar para proporcionar a mínima condição de bem estar de outrem. A sigla CRAS, significa Centro de Referência de Assistência Social. Não mudou, ainda...

Todo este enunciado se faz necessário para que melhor se compreenda o gesto louvável e humanístico de 3 policiais militares, que destacam no pelotão de Extremoz, cidade da microrregião de Natal.

Alex Saraiva; Carvalho e Galdino. Os dois primeiros, soldados e o último, sargento.

Filho de um ex-procurador de Justiça do Estado do RN, Alex Saraiva cursou direito, porém, por opção escolheu a polícia militar para seguir carreira;

Carvalho, soldado que carrega consigo o orgulho de enquadrar-se na PMRN;

Galdino, um sargento evangélico, com mais de 20 anos na corporação.

Este trio, protagonizou o que deveria ser corriqueiro. Na verdade, deveria ser dever de todo cidadão. Mas, diante dos dias se vivemos, onde o respeito e a vontade de ajudar ao próximo, quando não se conhece, é muita pouca ou quase sempre não existe, atitude como a que narro à seguir, nos faz acreditar que DEUS não perdeu a fé no homem.

Dias atrás, a viatura composta por estes, observou um transeunte que percorria os trechos entre Touros e Pirangui; Jacumã e Pirangui; Capim e Coqueiros. Após este período, o abordaram, para saber o por que de sempre está realizando este percurso. Diga de passagem, em círculo, sempre. A resposta: procurando trabalho. Nome: Francisco dos Santos Silva. Idade: 59 anos. Natural e residente em Porteiras, no Ceará. Cidadão sem oportunidade e constatado com a ficha limpa. Passou fome por dias. Andou por quilômetros, sem rumo. Dois anos sem ter como ir até a família em Porteiras. Dois anos, andando. Muitos mais parecido com um eremita.

Os policias resolveram ajudá-lo, levando-o ao próprio batalhão, onde tomou um banho. Fazia dias que isso não acontecia. Foi levado ao barbeiro, onde cabelo e barba foram devidamente feitos. O grande problema, era como fazer o senhor Francisco voltar para sua terra natal. Ontem, procuraram o CRAS de Extremoz. Pelo adiantar do horário, estavam fechando. A pressa era tanta, que o funcionário não teve a sensibilidade de, mesmo muito próximo do horário de encerramento, procurar uma solução. Esqueceu o funcionário que quem estava do "outro lado" era um ser humano. Igualzinho a ele. Filho do mesmo Pai. O que o diferenciava e que naquele instante o "outro lado" estava sem a oportunidade de ele teve. Não tinha um trabalho. E como diz a famosa frase de Benjamin Franklin, "O trabalho edifica o homem". O ser humano que ali estava, não tinha trabalho. Mas tinha dignidade. E com a dignidade, edifica-se. Pois essa é uma das características para se obter o passaporte para ter ao menos a oportunidade de ser ajudado. Mas não... não havia tempo para isso. O horário avançado, impossibilitou o atendimento ao senhor Francisco. "Volte segunda-feira. Veremos o que fazer."

Segunda-feira poderia ser tarde demais. Seu Francisco já tinha andando muito. Tinha passado fome por dias. Talvez segunda-feira fosse tarde demais...

Com a negativa ou no máximo o adiamento de uma solução, o trio tomou a melhor das atitudes: seu Francisco teria que voltar ao seu lar naquele dia. Esperar o que? Pra que? Segunda-feira poderia ser tarde demais... "Vamos procurar informações de como chegar até Porteiras, no Ceará, e pagar a passagem de seu Francisco. E assim procederam. Com o consentimento do Tenente Couceiro, comandante do destacamento de Extremoz, que creio sem muito esforço, conseguiu ver o "outro lado" de uma forma humana, como deve ser; que a questão tempo era fundamental para seu Francisco, não para ele, autorizou a viatura deslocou-se até Natal, na rodoviária da Cidade Esperança, onde embarcaram seu Francisco, rumo a Brejo Santo (CE). Em terras cearenses, havia um transporte que o levaria até Porteiras, já que disponha, agora, de algum dinheiro para quitar a passagem entre as duas cidades. Mínimo recurso, tirado do próprio bolso dos policiais, pouco ou muito, para seu Francisco naquele momento era uma fortuna. E assim ocorreu. Seu Francisco, graças a atitude singular e ao mesmo tempo nobre destes 3 policias, travestidos de entes celestiais enviados por DEUS, atenderam o que o poder público, (diga-se de passagem, o CRAS), não teve tempo. Por que o expediente estava se vencendo. Era tarde demais. Mas segunda-feira poderá ser mais tarde ainda para seu Francisco.

De longe, perto pela bendita internet, mesmo sem saber quem é o cidadão Francisco dos Santos Silva, agradeço a parte que me cabe como ser humano, pelo extraordinário gesto de amor ao próximo, mesmo o próximo não sendo tão próximo, de Alex Saraiva; Carvalho e Galdino. Homens que nos fazem acreditar que DEUS não perdeu a fé no homem.

Muito obrigado.