A Justiça da Argentina decretou nesta quarta, 1º, a prisão de uma dúzia de ex-funcionários do governo da ex-presidente Cristina Kirchner e empresários, entre eles um ligado à família do atual presidente, Mauricio Macri, em meio a um escândalo de corrupção que sacudiu o país.
Entre os detidos estão Roberto Baratta, ex-secretário de coordenação do ex-ministro do Planejamento Federal, Julio De Vido, que também foi preso por suposta corrupção; os empresários Gerardo Ferreyra, da Electroingeniería, e Javier Sánchez Caballero, da construtora Iecsa; e o ex-secretário legal do Planejamento Federal, Rafael Llorens.
A Iecsa pertencia, até ano passado, a Ángelo Calcaterra, primo de Macri. A imprensa argentina classificou Caballero como um “braço direito” da família.
Segundo a promotoria, o esquema de corrupção movimentou “cerca de 160 milhões de dólares em dinheiro”, provenientes de subornos pagos por empresários em troca de obras públicas.
A ex-presidente Cristina Kirchner, que atualmente é senadora, foi convocada a depor, em 13 de agosto, como parte do mesmo processo. Ela deverá ser ouvida pelo juiz federal Claudio Bonadio, segundo fontes judiciais.
“A hipótese que está sendo investigada é a da associação ilícita”, declarou o promotor do caso, Carlos Stornelli, à Radio La Red. Não foi esclarecido se Kirchner foi convocada no caráter de testemunha ou de indiciada, pois o caso está sob sigilo.
As prisões ocorreram após depoimento da ex-mulher do motorista de Baratta, também preso, relatando supostas transferências de sacolas com dinheiro para o ministério.
O juiz citou a ex-presidente porque sua casa em Buenos Aires é apontada como o destino de uma das supostas entregas, conforme as anotações fornecidas à Justiça detalhando os movimentos do dinheiro. Presume-se que essas anotações pertençam a Oscar Centeno, motorista de Baratta.
A investigação começou há oito meses, quando um informante entregou uma caixa com seis cadernos e dois blocos, todos manuscritos, ao jornalista Diego Cabot do jornal La Nación.
“Encontrei um relato detalhado e absolutamente fidedigno (…) de dez anos de movimentos” de propina envolvendo “o ministério do Planejamento”, contou Cabot ao canal La Nación+. Os cadernos revelavam todas as entregas de dinheiro feitas por Baratta de automóvel entre 2005 e 2015, onde aparece o endereço da ex-presidente.
Kirchner, cujo mandato de senadora não permite que seja detida, compareceu ontem ao Senado, mas não fez declarações à imprensa.
Também foram chamados para depor sobre o caso o ex-chefe de gabinete Juan Manuel Abal Medina, o ex-secretário-geral da Presidência e ex-diretor da Agência Federal de Inteligência (AFI) Oscar Parrilli, e outros ex-funcionários que aparecem nas anotações.
Fonte: Letícia Fuentes/Veja, com AFP
Foto: Getty Images
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