“Não faço isso por obsessão. Entendo que o que acontece comigo é uma missão de Deus e ponto final.” É assim que o deputado federal Jair Messias Bolsonaro (PSC-RJ), de 62 anos, justifica o interesse em ser pré-candidato à Presidência da República. O militar da reserva ganhou popularidade em um cenário de insatisfação popular com a política e alcançou a segunda colocação na pesquisa Datafolhade junho, com 16% das intenções de voto – o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT)lidera com 30%.
Bolsonaro rompeu com a direção do PSC e deixará o partido até março do ano que vem, quando abrirá a próxima “janela partidária” – um projeto de reforma política pretende antecipar o prazo. Em busca de uma sigla para abrigar sua candidatura às eleições de 2018, Bolsonaro já conversou com o Muda Brasil, projeto capitaneado pelo ex-deputado Valdemar Costa Neto (PR-SP), condenado no mensalão, e com o PHS. Hoje ele negocia com o PSDC, de José Maria Eymael, citado nas delações da Odebrecht no âmbito da Operação Lava Jato.
Simpatizante da ditadura militar e crítico de direitos humanos e programas sociais, Bolsonaro é chamado de aventureiro político por seus opositores. “Esses caras querem me desqualificar. Já cansaram de me chamar de fascista, racista, homofóbico e xenófobo.” O deputado, que atribui a crise econômica à violência urbana, se vê como um “ponto de inflexão” na política. Caso perca a eleição para um candidato do PT, PSDB ou PMDB – “todo mundo é de esquerda” –, diz que cogitará deixar o Brasil. “A questão ideológica é tão ou mais grave que a corrupção.”
Por que o senhor quer disputar a Presidência?
Há alguns anos vinha observando o destino do Brasil, o que temos e o que não somos. Vinha observando o perfil dos candidatos, como eram feitas as negociações e como o povo é esquecido nesse trabalho político que rola em Brasília. Tem muita coisa errada. Nós temos tudo para ser uma grande nação. Faltam homens que tenham o comprometimento com o país, e não com grupos políticos. A partir desse principio, comecei a me preparar para ter chances de disputar alguma convenção partidária.
Quais devem ser as prioridades da campanha?
Hoje em dia não dá para falar em quase nada se você não diminuir a temperatura da questão da violência. O pessoal fala muito em economia, mas o que é a economia perto da violência? O país não tem economia. Eu raramente vou sair à noite para comer uma pizza com a minha família na Barra da Tijuca. Muitas pessoas compram relógio e tênis nas feiras do Paraguai porque serão assaltadas se adquirirem algo razoável. Você não tem economia se não começar no básico, no bê-á-bá. A prioridade de qualquer candidato – e pode ser até a prioridade do Temer agora – é baixar a temperatura da questão da violência.
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Fonte: José Benedito da Silva/Veja.com
Foto: Cristiano Mariz
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