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domingo, 5 de maio de 2019

ESTUDANTES DE 6º ANO: "HOJE SÓ TIVEMOS UMA AULA"

Estávamos no meio da manhã de quinta-feira, pós-feriado de 1° de maio. Encontro esses adolescentes [foto] lindos, cheios de vitalidade e vontade de aprender, sentadinhos a conversar, na entrada da escola onde eu trabalho, a mesma onde eles estudaram até o ano de 2018. São garotos que saíram para cursar o 6° ano em outra unidade de ensino, mas, flagrantemente, não perderam o vínculo com a anterior.
Indaguei preocupada:
_ O que vocês fazem por aqui no horário das aulas?
A resposta veio quase em coro:
_ Professora, só tivemos uma aula hoje.
Retruquei:
_Uma aula de 50 minutos? Como assim, gente?
Eles:
_As professoras faltaram. Faltou a de matemática, a de geografia…
Relataram outros detalhes do drama que vivem na escola atual, inclusive que as mães já teriam apresentado suas preocupações à direção da escola, relativas à irregularidade das aulas. Indaguei:
_ Por que vocês não vão para suas casas?
A resposta veio rápida:
_Ah, professora, não tem o que fazer em casa! A gente quer ficar aqui [na antiga escola], ir lá pra o quintal.
Especialistas se debatem para entender as razões da educação brasileira ter avançado nos anos iniciais do ensino fundamental (1° ao 5° ano) e a partir do 6° ano permanecer estagnada em taxas preocupantes de repetência que expressam a baixa proficiência dos estudantes, a se acumular pelos anos seguintes. Ora, se a escola não consegue o mínimo de regularidade no funcionamento a partir do 6° ano, não é por acaso que o Índice de Desenvolvimento da Educação Básica (IDEB) revela resultados desprezíveis no 9° ano e na 3ª série do ensino médio. Com o passar dos anos o quadro só se agrava.
É assustador verificar a recorrência de faltas dos docentes ao trabalho. Parece ser mais comum as escolas dos anos iniciais se desdobrarem para atenuar os prejuízos de aprendizagens das crianças. Tenho vivido essa experiência onde atuo na função de coordenadora pedagógica. É inacreditável, mas já tivemos que cobrir a falta de 50% dos mestres num único dia e as ausências de um ou outro são quase diárias. Isso não pode ser normal. Não há escola, projeto e nem educação que se sustente sem a presença do professor na cena pedagógica.
Observo com preocupação o que ocorre em muitas escolas a partir do 6° ano: falta de professores, professores que faltam, escolas que fecham as portas por motivos menores, condições de aprendizagem pouco atrativas, falta de metas e de foco em resultados.
O que resta aos estudantes que tiveram uma escola razoável até o 5° ano ao se deparar com um cenário de convite ao fracasso? Como esperarmos um bom desempenho acadêmico se nem mesmo a inexpressiva carga-horária de 4 horas é cumprida?
Estudantes pedem socorro diante de uma escola cara à população e que lhes oferece uma mísera aula de 50 minutos, esperando que aceitem com naturalidade.

Fonte: Blog Cláudia Santa Rosa

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