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domingo, 18 de dezembro de 2022

A DEMOCRACIA SEM POVO

STF e Congresso inventaram o orçamento sem transparência, negando ao pagador de impostos o direito elementar de conhecer origem e destino do dinheiro público.

Parodiando Gregório de Matos Guerra, o Boca do Inferno, “triste Brasil, ó quão dessemelhante”, pois aqui os ditos representantes do povo encontraram argumentos demagógicos e jurídicos para arrombarem os cofres públicos sem sequer a cerimônia de darem explicação. Contando com a oportunosa ensancha propiciada pela eleição do capitão Jair Messias Bolsonaro, incapaz de distinguir o buraco de uma agulha da corcova de um camelo, o presidente da Câmara dos Deputados, Artur Lira, inventou a conjunção obrigatória de dois antônimos, orçamento secreto. Por esse truque de fazer corarem doleiros de mensalão e petrolão, entregando parte considerável do butim a si próprio, família, paróquia e grei, o “nobre” parlamentar escondeu no sigilo do destino das verbas tidas como coletivas o “abre-te, Sésamo” da caverna do ouro invadida por 40 ladrões.

Com a mesma desenvoltura com que libertaram os condenados da Operação Lava Jato, os inimigos destes uniram-se para assegurar a permanência do lance de dados no cassino desocupado pelos perdedores da hora para a ocupação dos vencedores da vez. O jogo de cena foi tão eficaz que já se cogita a adesão do líder de todos os governos, Ricardo Barros, prestidigitador da banca do capitão-terrorista, adesão à futura gestão em que o Partido dito de Trabalhadores que nunca suaram, providencia o afastamento de antigos aliados nocivos ao bem-estar da opa sindicalista. Não foi golpe de pouca monta. A presidente do Supremo Tribunal Federal (STF), relatora da ação contra as emendas do relator, Rosa Weber, redigiu um voto antológico em defesa do óbvio: não há democracia sem transparência. A primeira dissidência ao primoroso documento partiu do pastor André Mendonça, acólito do lulismo sindical e pregador do bolsoarismo cristão de araque. Apelou para a representação do cidadão na Câmara para afastar do poder o verdadeiro cidadão, que só penetra na casa das leis para varrer o chão e servir cafezinho, frio para quem sai, morno para quem fica e delicioso para quem entra. Passou o refrão para Nunes Marques, que ainda tem duas semanas para louvar seu mito de coturno.

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Fonte: José Nêumanne Pinto/O Antagonista

Foto: TV Senado

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