Num instante em que Jair Bolsonaro esnoba doações de países ricos e assegura que o Brasil não precisa de socorro externo para preservar a floresta amazônica, o ministro Ricardo Salles (Meio Ambiente) reconheceu: falta dinheiro e estrutura para realizar a fiscalização ambiental no país. Disse que o GEF, Grupo Especializado de Fiscalização, uma espécie de pelotão de elite do Ibama, dispõe de apenas 13 fiscais em todo país.
Em entrevista ao programa Roda Viva, Salles lamentou a falta de auxílio dos governos estaduais." A nossa estrutura por si só, sem o apoio dos estados, não é suficiente". Contou, por exemplo, que coleciona pedidos frustrados de colaboração com o governo paraense. Foram "doze ofícios pedindo apoio policial, desde fevereiro, para operações no estado do Pará".
Na prática, o controle da fiscalização ambiental foi transferido para as Forças Armadas pelo menos até a primeira quinzena de setembro. Para atenuar o drama financeiro, o ministro Paulo Guedes (Economia) desbloqueou R$ 39 milhões do Ministério da Defesa. Recorreu-se à farda depois de uma sequência de tolices protagonizadas por Bolsonado —do questionamento de dados científicos sobre o desmatamento às agressões aos doadores estrangeiros, passando pela calúnia de atribuir às ONGs a responsabilidade pelo surto de queimadas.
Por que o governo não agiu antes de a crise ambiental virar uma manchete planetária? Ricardo Salles afirmou que os militares só poderiam atuar depois que o presidente editasse decreto autorizando a soldadesca a exercer o "poder de polícia" em território nacional. Batizada de GLO, Operação de Garantia da Lei e da Ordem, esse tipo de atividade está prevista na Constituição. Faltou esclarecer por que Bolsonaro agravou a crise que abriu os quarteis.
A certa altura, Salles comentou o caso batizado de "dia do fogo". Trata-se de um conluio supostamente urdido num grupo de WhatsApp por fazendeiros do sudoeste do Pará, para provocar queimadas em série ao longo da BR-163 no último dia 10 de agosto. O ministro reconheceu que o Ibama foi avisado pelo Ministério Público paraense com três dias de antecedência. Acionou a polícia estadual. E nada.
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Fonte: Josias de Souza/UOL
Foto: AmandaPerobelli/Reuters
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