Estudo mostra que maioria das crianças passou a comer e se vestir sozinha no período
A presença de ao menos uma criança em casa ajudou a estabelecer uma rotina básica durante a pandemia.
Diante do cenário de trabalho, lazer, educação, tarefas domésticas e brincadeiras, onde manhã, tarde e noite tendem a se misturar, a criança atuou como organizador do caos devido às suas necessidades básicas, como sono, higiene e alimentação.
Esse é o resultados obtido pelo estudo Passos e Descompassos da Primeira Infância, divulgado esta semana pelo coletivo Tsuru e Quantas em parceria com o Gloob.
Em relação à rotina, 63% das crianças estão acordadas às 8 horas, 91% almoçam até o meio-dia e 80% jantam até as 20h. Apesar dessa aparente organização, 53% dos entrevistados disseram que os dias se tornaram iguais, inclusive havendo confusão entre dias úteis e finais de semana.
O traje oficial da pandemia foi o pijama para 59% das famílias e 70% delas responderam que houve aumento no consumo de vídeos em casa.
A pesquisa mostrou também que durante o isolamento social, 60% das crianças passaram a se vestir sozinhas e 76% começaram a comer sem auxílio dos adultos.
Se de um lado a pandemia estimulou a independência infantil, do outro o isolamento social gerou maior demanda por atenção para 76% das crianças. A necessidade emocional também ficou mais evidente na hora do sono, pois 67% dos filhos pediram para dormir com os pais no período.
Esse movimento foi batizado de "casulo-borboleta", quando há, segundo os pesquisadores, um recuo no desenvolvimento causado pelo isolamento social.
"O contato com outras crianças é o que permite identificação, experimentação e o sentimento de pertencimento. Isso é essencial ao desenvolvimento individual, cognitivo, afetivo e também à inserção na cultura", afirma a psicóloga Ana Carolina Valentim.
A especialista pontua que a sociabilidade também se desenvolve quando há interação com outros adultos além dos pais. "É na relação entre a singularidade e pluralidade que esse desenvolvimento se dá", diz.
O período também abalou o lado emocional dos pais. Pelo menos 56% deles responderam que se sentiram mais ansiosos.
Apesar da mistura do tempo, rotina bagunçada e "sentimento de perda" trazido pelo distanciamento social, 86% dos pais declaram estar mais felizes por poder usufruir de mais tempo ao lado dos filhos.
Sobre isso, a coordenadora de Inteligência de Mercado das Unidades Infantis e de Entretenimento, Anna Mezashi, que atuou diretamente na pesquisa, lembra que assim como os adultos, as crianças precisaram se adaptar e resinificar o período. "Elas se adaptaram ao que podia ser oferecido e assim farão daqui em diante. O sentimento de 'perda' dos pais veio da incerteza ao se deparar com o desconhecido e sem saber o que aconteceria dali para frente", observa.
Ao longo de tanto tempo de restrições, muitos pais já questionaram o desenvolvimento dos filhos, mas o quesito felicidade merece destaque, segundo Anna. "Em que outro momento eles teriam a oportunidade de acompanhar tão de perto o desenvolvimento dos filhos? Hoje entendem que fizeram o que podiam no momento, e a partir daí, já começaram a achar que está tudo bem", finaliza.
Fonte: Folha de SP
Foto: Adobe Stock
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