O ex-presidente Fernando Henrique Cardoso (PSDB) prestou depoimento nesta segunda-feira, 11, como testemunha de defesa do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) em um processo da Operação Lava Jato. Na oitiva diante do juiz federal Sergio Moro, por meio de videoconferência, FHC disse que uma das funções do presidente da República é ouvir representantes de diversos setores da sociedade – e que “malandros” não podem ser discriminados entre os interlocutores do governante.
“O malandro, você sabe que ele é malandro, você não vai entrar na malandragem dele. Você tem que ver da malandragem dele o que ele quer. E ele não pode ser malandro o tempo todo, tem momentos em que não é. Ele não tem que ser discriminado. Enfim, acho que quem tem a função pública tem o dever de ouvir, a obrigação de cumprir o que é sua convicção, tentar levar o país para certa direção, é o que eu acho”, declarou o tucano, quando questionado pela defesa de Lula sobre se teve encontros com empresários, incluindo o empreiteiro Emílio Odebrecht, enquanto era presidente.
“Falava com todo mundo e continuo falando”, acrescentou FHC, citando também os nomes dos empresários Antonio Ermírio de Moraes, do Grupo Votorantim, e Olavo Setúbal, do banco Itaú. Ele ressaltou que os diálogos se davam “pensando no interesse público”.
Na ação contra Lula, o petista é acusado de receber 1 milhão de reais em propina de Odebrecht, OAS e Schahin por meio de reformas em um sítio em Atibaia (SP), frequentado por ele e sua família. Segundo Emílio Odebrecht, que fechou delação premiada com a Procuradoria-Geral da República (PGR), a reforma na propriedade foi tema de um encontro com Lula no Palácio do Planalto, no final de dezembro de 2010.
FHC disse também que cabe ao presidente manter “uma atitude, uma forma de ser que os impeça de dizer coisas inconvenientes”. “Do jeito que eu sou, é difícil alguém vir conversar e trazer uma distorção do seu interesse próprio. Pode até trazer, simplesmente ouço, faço o que acho que é meu dever. A função de quem está governando não é escolher o interlocutor, você escolhe o interlocutor quando não está na vida pública. Quando está na vida pública, você tem que lidar com personagens públicos”, afirmou o tucano.
Na semana passada, VEJA revelou que FHC pediu a Marcelo Odebrecht, filho de Emílio, por meio de e-mails, doações a candidatos tucanos na eleição de 2010. Àquela altura, o tucano não ocupava cargo público. Depois dos pedidos, duas distribuidoras ligadas à cervejaria Petrópolis fizeram doações oficiais que somaram 100.000 reais a Antero Paes de Barros, um dos candidatos indicados pelo ex-presidente ao empreiteiro. A Odebrecht usava as duas empresas para fazer doações “disfarçadas” a candidatos e depois “reembolsava” o Petrópolis.
Fonte: João Pedroso de Campos/Veja
Foto: Reprodução
Nenhum comentário:
Postar um comentário
COMENTÁRIO SUJEITO A APROVAÇÃO DO MEDIADOR.