Troca afeta agentes que atuaram em casos que desagradaram ao governo. Associação pede lei que proteja autonomia
Depois de reclamar nos dois primeiros anos de governo de não conseguir influir nas nomeações de cargos de direção na Polícia Federal, o presidente Jair Bolsonaro tem conseguido consolidar trocas em postos-chave. Em alguns casos, as mudanças têm como alvo delegados cuja conduta profissional desagradou ao governo; só este ano já foram oito exonerações, uma média de uma por mês desde que o atual diretor-geral da PF, Paulo Maiurino, assumiu o cargo.
Para o diretor da Associação Nacional de Delegados da Polícia Federal (ADPF), Edvandir de Paiva, os episódios de remoção de delegados da Polícia Federal têm se repetido de forma “estranha” e “preocupante” nos últimos meses. Paiva vem recebendo queixas de colegas sobre o temor de represálias pela atuação em investigações consideradas delicadas para o governo Bolsonaro.
— Esses fatos estão ficando mais recorrentes e incomodam demais. Os delegados estão extremamente indignados e insatisfeitos com toda essa situação. A única solução para resolver isso é a aprovação de leis que protejam a autonomia da PF — avaliou Paiva.
Procurada, a Polícia Federal informou que a movimentação de servidores dentro da instituição “é regular e faz parte dos mecanismos de gestão administrativa, não havendo outras razões que não a de ordem técnica para tais mudanças”. De acordo com a instituição, o corpo de servidores tem uma formação profissional homogênea, “o que torna eventuais substituições de cargos de chefia um processo natural, que não causa qualquer tipo de prejuízo aos serviços prestados à sociedade”.
Categoria insatisfeita
A última exoneração que gerou insatisfação na categoria ocorreu no início de novembro. A delegada Silvia Fonseca perdeu o posto de diretora do Departamento de Recuperação de Ativos e Cooperação Jurídica Internacional (DRCI), vinculado ao Ministério da Justiça. Ela caiu após dar andamento ao processo de extradição do blogueiro bolsonarista Allan dos Santos, alvo de prisão preventiva expedido pelo Supremo Tribunal Federal.
Esta semana, a Polícia Federal decidiu exonerar a delegada que atuava junto à Interpol, a polícia internacional. Ela foi a responsável pela ordem de prisão no exterior de Allan dos Santos, determinação que foi enviada para inclusão na lista de difusão vermelha. A delegada Dominique de Castro Oliveira foi informada por seus superiores que seria exonerada do cargo e teria de retornar para a Superintendência da PF no Distrito Federal.
Em outubro, o então superintendente da PF no Distrito Federal, Hugo Correia, também foi exonerado do cargo, o que provocou surpresa entre colegas, já que ele havia sido nomeado somente cinco meses antes. A superintendência conduzia o inquérito envolvendo Renan Bolsonaro, filho do presidente.
Fonte: O Globo
Foto: Reprodução
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