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terça-feira, 27 de fevereiro de 2018

APÓS NOVE ANOS E 34 RECURSOS, CARLI FILHO VAI A JÚRI POR DUPLO HOMICÍDIO.

Ex-deputado matou jovens em acidente de trânsito; Familiares temem novo adiamento.

Nove anos depois de ser acusado de matar duas pessoas em Curitiba, o ex-deputado estadual do Paraná Luiz Fernando Ribas Carli Filho, de 35 anos, vai a júri popular nesta terça-feira. Para conseguir acompanhar todos os passos do julgamento, marcado para começar às 13h desta terça-feira, teve gente que fez fila na madrugada para garantir assento no tribunal — 200 senhas foram distribuídas. Famíliares das vítimas temem que o político não compareça ao fórum e tente adiar mais uma vez o julgamento. O processo tornou-se um caso emblemático sobre como manobras judiciais são usadas para garantir a impunidade.
Carli Filho será julgado por duplo homicídio. Na madrugada de 7 de maio de 2009, o ex-parlamentar matou os estudantes Gilmar Rafael Souza Yared, de 26 anos, e Carlos Murilo de Almeida, de 20 anos, ao dirigir alcoolizado e em alta velocidade. Então deputado pelo PSB, ele estava a 170km/h em uma via cujo limite é de 60km/h. O carro dele descolou do chão e aterrissou sobre o Honda Fit onde estavam as vítimas. Com o impacto, Gilmar Rafael teve a cabeça decepada, e Carlos Murilo, o corpo partido ao meio. Na época do acidente, o então parlamentar estava com a habilitação suspensa e acumulava 30 multas, das quais 23 eram por excesso de velocidade. Entre 2003 e 2009, ele somou 130 pontos na carteira.
Trinta e quatro recursos aos tribunais superiores mantiveram Carli Filho impune e longe do banco dos réus até agora. A defesa, sob responsabilidade do advogado René Dotti, tentou evitar que o ex-deputado fosse submetido a júri popular pelo homicídio com dolo eventual, ou seja, pelo fato de ter assumido o risco de matar ao beber e dirigir em alta velocidade. O objetivo era que o crime fosse classificado como homicídio culposo (sem intenção) para que Carli Filho fosse julgado pelo código de trânsito, cuja pena varia de 2 a 4 anos e pode ser convertida para prestação de serviços à comunidade, como pagamento de cestas básicas. Agora, se for condenado por homicídio doloso, o ex-parlamentar poderá pegar até 20 anos de prisão.
A última cartada dos advogados de Carli Filho foi pedir que o júri fosse transferido para outra cidade, alegando "parcialidade dos jurados" e "comoção social". Na última sexta-feira, o recurso foi negado pelo ministro Gilmar Mendes, do Supremo Tribunal Federal (STF), que manteve as decisões da Justiça do Paraná e da Superior Tribunal de Justiça (STJ).
RISCO DE NOVA MANOBRA
As famílias das vítimas temem uma manobra em cima da hora para evitar o júri. O julgamento pode, em tese, ser suspenso caso o advogado da defesa alegue impossibilidade de comparecer ao júri, por exemplo, por razões médicas. Outro motivo para postergar o julgamento é a ausência de testemunha considerada essencial ou cerceamento do direito do réu se defender. Há ainda a chance de o júri ocorrer mesmo sem a presença do ex-deputado.
— Ele (Carli Filho) pode inclusive não comparecer ao júri. Nós estaremos lá, mas o ele tem a prerrogativa de não ir. Que país é esse? — questiona o radialista Gilmar Yared, pai de Gilmar Rafael Yared.
Após a morte do filho, a empresária Christiane Yared fundou uma ONG e encampou uma luta contra mortes no trânsito. A visibilidade a levou à política. Em 2014, Christiane, hoje no PR, foi eleita deputada federal com a maior votação no Paraná.
No acidente, Carli Filho teve várias fraturas no rosto. De família tradicional de políticos do Paraná, ele foi socorrido no Hospital Evangélico de Curitiba e, três dias depois, transferido de jatinho para o Hospital Albert Einstein, em São Paulo. O então deputado renunciou ao seu mandato 22 dias após a tragédia.
Carli Filho se manifestou apenas uma vez após o acidente. Em vídeo gravado em 2016, pediu desculpas às famílias e admitiu que bebeu antes de dirigir. Carli Filho se afastou da vida política e, hoje, dirige as emissoras de rádio da família em Guarapuava, cidade de 180 mil habitantes e a 257 quilômetros de Curitiba.

Fonte: Jussara Soares/O Globo
Foto: Joel Rocha/Agência O Globo

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