Nunca usou as redes nacionais para ser solidário com as vítimas, sequer para agradecer aos profissionais do SUS que corajosamente enfrentaram essa batalha de peito aberto. Pelo contrário, usou os meios de comunicação para tripudiar em cima de quem clamava por mililitros de oxigênio.
Aqui do meu refúgio, adquirido mediante financiamento da Caixa Econômica Federal, quando as taxas de juros não eram tão extorsivas e o meu poder de compra era completamente diferente de hoje, através das telas, sinto esperança pulsando nas artérias do meu coração. Lula ressurge tal qual uma fênix.
E o renascimento das nossas liberdades individuais e coletivas aconteceu numa cerimônia democrática, onde as mulheres foram as primeiras a subirem a rampa do Congresso Nacional. Isso, por si só, já foi um êxtase.
O discurso de Lula quando empossado teve a acidez necessária. Diante do Plenário, o Presidente, além de firmar seus compromissos perante o povo brasileiro, foi taxativo em reafirmar sobre a responsabilidade de medidas fundamentais na apuração de eventuais crimes contra a humanidade. Não há como usar leveza nessa hora. Na construção da justiça, a licença poética precisa ser interrompida por breves instantes para que a razão possa tomar as rédeas do processo. Mas, concordemos ser a paz social fruto da justiça. Logo, com a restauração da independência dos
Poderes, a pacificação do nosso povo é uma consequência natural.
É importante acrescentar que o respeito da comunidade internacional, fazendo da cerimônia de posse o evento com o maior número de delegações estrangeiras presentes. O reconhecendo da lisura do sistema eleitoral brasileiro foi validado pela presença de ninguém menos do que José Mujica.
A liturgia exigida para esse momento histórico foi seguida com mestria. Um país obedecendo à ritos e tradições é, no mínimo, civilizado.
Seguindo o rito, ao passear perante as três Forças Armadas Brasileiras, Lula mostrou que as armas são submissas à sociedade civil, jamais o contrário. É assim que tem que ser e assim o será.
Nesse contexto, a história conta que a tradição da passagem da faixa presidencial foi criada por Hermes da Fonseca em 1910. Até os dias de hoje, nenhum ex-presidente havia tido a mesquinhez de desrespeitar essa liturgia. Bolsonaro, mais uma vez, atropelando a soberania popular exercida através do voto, não me surpreendeu com esse hiato. O que podemos esperar de quem exalta e defende torturadores da estirpe do Cel. Ustra? Na verdade e a bem da verdade, o hiato foi preenchido pela diversidade e Lula recebeu a faixa das mãos de vários seguimentos da sociedade, a saber, indígenas, mulheres, negros, crianças, pessoas com necessidades e catadores de lixo. Mãos entrelaçadas de amor suplantam toda e qualquer lacuna.
Concordemos que o Brasil prescinde de mãos ensanguentadas, não é mesmo?
Pois bem, de mãos dadas com o povo brasileiro, o metalúrgico pernambucano subiu a rampa do Palácio do Planalto em grande estilo. Afinal de contas, cada um só dá o que tem e ninguém tira leite de pedra. Enquanto Bolsonaro tem intolerância, Lula tem amor. Enquanto Bolsonaro incita a violência, Lula nos conclama à leitura. Enquanto Bolsonaro planta ódio, divisão e discórdia, Lula planta respeito e compaixão. Como diz Caetano, é o avesso do avesso do avesso, graças a Deus e aos milhares de brasileiros que, heroicamente, hastearam a bandeira da paz.
Portanto, sigamos sendo um só povo e uma só nação. Um novo olhar, um novo tempo, sem ódio, sem armas, com livros e informação. Plantemos também em nós a ideia de que as desigualdades nos afastam do bem. Não adianta fecharmos os vidros dos nossos veículos para não enxergarmos as diferenças. A realidade está diante de todos. Lutemos por um mundo justo, humano, equânime e solidário.
Finalizo esse texto degustando uma taça de vinho tinto debaixo de um céu coroado de estrelas.
Natal, 1 de Janeiro de 2023
Teresa Paiva de Oliveira, advogada, escritora, cronista e poetisa
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