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domingo, 1 de janeiro de 2023

LADIES FIRT

Numa tarde ensolarada de verão, Luiz Inácio Lula da Silva, foi empossado como Presidente da República Federativa do Brasil pela terceira vez.

O resgate da democracia outrora usurpada de nós por um grupo de fascistas extremados ocorreu numa cerimônia emocionante, cuja quebra dos protocolos foi marca registrada.

Há exatos quatro anos, assistíamos o  ex-presidente Jair Messias Bolsonaro, juntamente com sua esposa, D. Michelle, ambos a bordo do Rolls-Royce, como protagonistas do desfile presidencial. Ao lado do veículo, adquirido na época de Getúlio Vargas, estava a cavalaria conduzida pelos dragões da independência. Uma ostentação desnecessária já sinalizava a divisão de um povo.

Era, em suma, um Presidente repetindo o terrível padrão de João Batista de Figueiredo. Em uma de suas falas, Figueiredo disse preferir o cheiro dos cavalos ao cheiro de gente. Como um fiel seguidor e defensor da ditadura, Bolsonaro seguiu seus antecessores à risca.

Em quatro anos de governo, conseguiu colocar o Brasil novamente no mapa da miséria, segundo dados da ONU. Não bastasse isso, o relativismo, o negacionismo e a ausência completa de empatia mataram 700 mil de brasileiros na pandemia do Covid 19.

Nunca usou as redes nacionais para ser solidário com as vítimas, sequer para agradecer aos profissionais do SUS que corajosamente enfrentaram essa batalha de peito aberto. Pelo contrário, usou os meios de comunicação para tripudiar em cima de quem clamava por mililitros de oxigênio.

Aqui do meu refúgio, adquirido mediante financiamento da Caixa Econômica Federal, quando as taxas de juros não eram tão extorsivas e o meu poder de compra era completamente diferente de hoje, através das telas, sinto esperança pulsando nas artérias do meu coração. Lula ressurge tal qual uma fênix.

E o renascimento das nossas liberdades individuais e coletivas aconteceu numa cerimônia democrática, onde as mulheres foram as primeiras a subirem a rampa do Congresso Nacional. Isso, por si só, já foi um êxtase.

O discurso de Lula quando empossado teve a acidez necessária. Diante do Plenário, o Presidente, além de firmar seus compromissos perante o povo brasileiro, foi taxativo em reafirmar sobre a responsabilidade de medidas fundamentais na apuração de eventuais crimes contra a humanidade. Não há como usar leveza nessa hora. Na construção da justiça, a licença poética precisa ser interrompida por breves instantes para que a razão possa tomar as rédeas do processo. Mas, concordemos ser a paz social fruto da justiça. Logo, com a restauração da independência dos 

Poderes, a pacificação do nosso povo é uma consequência natural. 

É importante acrescentar que o respeito da comunidade internacional, fazendo da cerimônia de posse o evento com o maior número de delegações estrangeiras presentes. O reconhecendo da lisura do sistema eleitoral brasileiro foi validado pela presença de ninguém menos do que José Mujica.

A liturgia exigida para esse momento histórico foi seguida com mestria. Um país obedecendo à ritos e tradições é, no mínimo, civilizado.

Seguindo o rito, ao passear perante as três Forças Armadas Brasileiras, Lula mostrou que as armas são submissas à sociedade civil, jamais o contrário. É assim que tem que ser e assim o será.

Nesse contexto, a história conta que a tradição da passagem da faixa presidencial foi criada por Hermes da Fonseca em 1910. Até os dias de hoje, nenhum ex-presidente havia tido a mesquinhez de desrespeitar essa liturgia. Bolsonaro, mais uma vez, atropelando a soberania popular exercida através do voto, não me surpreendeu com esse hiato. O que podemos esperar de quem exalta e defende torturadores da estirpe do Cel. Ustra? Na verdade e a bem da verdade, o hiato foi preenchido pela diversidade e Lula recebeu a faixa das mãos de vários seguimentos da sociedade, a saber, indígenas, mulheres, negros, crianças, pessoas com necessidades e catadores de lixo. Mãos entrelaçadas de amor suplantam toda e qualquer lacuna. 

Concordemos que o Brasil prescinde de mãos ensanguentadas, não é mesmo?

Pois bem, de mãos dadas com o povo brasileiro, o metalúrgico pernambucano subiu a rampa do Palácio do Planalto em grande estilo. Afinal de contas, cada um só dá o que tem e ninguém tira leite de pedra. Enquanto Bolsonaro tem intolerância, Lula tem amor. Enquanto Bolsonaro incita a violência, Lula nos conclama à leitura. Enquanto Bolsonaro planta ódio, divisão e discórdia, Lula planta respeito e compaixão. Como diz Caetano, é o avesso do avesso do avesso, graças a Deus e aos milhares de brasileiros que, heroicamente, hastearam a bandeira da paz.

Portanto, sigamos sendo um só povo e uma só nação. Um novo olhar, um novo tempo, sem ódio, sem armas, com livros e informação. Plantemos também em nós a ideia de que as desigualdades nos afastam do bem. Não adianta fecharmos os vidros dos nossos veículos para não enxergarmos as diferenças. A realidade está diante de todos. Lutemos por um mundo justo, humano, equânime e solidário.

Finalizo esse texto degustando uma taça de vinho tinto debaixo de um céu coroado de estrelas.

Natal, 1 de Janeiro de 2023

Teresa Paiva de Oliveira, advogada, escritora, cronista e poetisa

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