O ministro do Esporte, Orlando Silva, jogou nas costas do antecessor, Agnelo Queiroz, atual governador do Distrito Federal, a responsabilidade pela celebração de dois convênios da pasta com entidades comandadas por João Dias Ferreira. O policial militar acusa Orlando de receber propina em contratos celebrados no âmbito do programa Segundo Tempo.
De acordo com as declarações dadas pelo ministro, ele só recebeu o policial e firmou o primeiro convênio por orientação de Agnelo, de quem era secretário-executivo. "A única vez que encontrei este caluniador foi no Ministério do Esporte. Eu era secretário-executivo do Agnelo, que me recomendou que o recebesse e firmasse o convênio", disse Orlando Silva, em entrevista coletiva. Destacou o fato de ser subordinado de Agnelo na época. "Ele era ministro, eu era só o secretário-executivo".
A versão do ministro foi contestada pelo policial. A conversa com o policial teria acontecido entre o final de 2004 e o início de 2005. Os convênios com a associação de João Dias e a Federação Brasiliense de Kung Fu, presidida por ele, foram firmados em 2005 e 2006. Orlando Silva afirmou que o convênio foi celebrado devido à "experiência da entidade" em um trabalho social na cidade de Sobradinho. Ressaltou ainda não ter sido encontrado pela equipe técnica da pasta qualquer problema relativo às entidades.
Após repassar a responsabilidade, Orlando disse acreditar que a ação de Agnelo tenha sido de "boa fé". "O governador do Distrito Federal é pessoa correta. É uma pessoa bem intencionada, defende o interesse publico. É uma pessoa que agiu de boa fé. Acreditou nas intenções, nas atitudes manifestadas por algumas pessoas. Quero acreditar nisso". Procurada, a assessoria de Agnelo disse que o governador está em viagem e não poderia ser localizado. O ministro voltou a chamar o policial que o denunciou de "bandido" e atribuiu as acusações aos processos movidos pela pasta contra João Dias, como a tomada de contas especial em andamento no Tribunal de Contas da União (TCU).
O ministro tentou demonstrar tranquilidade em relação a sua permanência no cargo. Disse ter respaldo de seu partido, o PC do B, e do governo. "Tanto no partido quanto no governo, o que percebo é solidariedade e apoio para continuar meu trabalho". Afirmou que as denúncias não atrapalham sua atuação e destacou que a negociação com a Fifa sobre a Copa do Mundo é feita em nome de posições do governo e não apenas do ministério. Confirmou ainda que não irá quinta-feira a Zurique, na Suíça, no evento do anúncio da sede da abertura da Copa do Mundo. Atribuiu a ausência ao desejo do governo de não manifestar preferência por alguma cidade.
Buscando antecipar-se a iniciativas da oposição, Orlando pediu formalmente à Polícia Federal e à Procuradoria-Geral da República que o investigasse. Solicitou ainda à Comissão de Ética Pública da Presidência que pudesse apresentar pessoalmente suas explicações, como fará amanhã em audiência de duas comissões da Câmara.
Orlando destacou que o ministério tomou uma decisão no mês passado de não firmar mais contratos com ONGs no programa Segundo Tempo. Questionado, porém, do fato de não haver qualquer portaria neste sentido formalizando a decisão, afirmou que isso poderá ser feito. Existem ainda 27 convênios com entidades, sendo que 16 têm término no final deste ano.
O ministro ressaltou ainda que os novos convênios não contemplarão recursos para a alimentação dos beneficiários, uma das áreas campeãs de fraudes. Destacou também que a compra de material esportivo e uniforme, outra área vista como problemática, só poderá ser feita agora por meio de pregão eletrônico.
Fonte: Agência Estado
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