Primeira parlamentar com foro especial a ser interrogada, senadora pode ficar em silêncio, mas diz que responderá todas as peguntas que forem feitas. Depoimento acontece na segunda-feira.
Considerada um dos principais soldados do PT, a presidente do partido e senadora Gleisi Hoffman (PR) vai enfrentar uma luta pessoal na segunda-feira (28): ela vai sentar no banco dos réus. Será é a primeira vez, após mais de três anos do início da Operação Lava Jato, que um parlamentar será interrogado pelo Supremo Tribunal Federal (STF).
Gleisi pode recorrer ao direito de permanecer em silêncio, mas terá que comparecer pessoalmente ao depoimento, em Brasília. Seu marido, o ex-ministro Paulo Bernardo (PT), que também é réu, será ouvido no mesmo dia. A defesa do casal garante que todas as perguntas serão respondidas, já que “não há nada a esconder”.
Após essa etapa, a ação penal entra na reta final e o julgamento dos petistas poderá ocorrer ainda neste ano, quando a Segunda Turma do STF decidirá pela condenação ou absolvição dos crimes de corrupção passiva e lavagem de dinheiro. Um desfecho desfavorável à congressista terá implicações diretas em seu futuro político, como a inelegibilidade, sendo que seu mandato acaba no início de 2019, precisando passar por um recall das urnas no ano que vem. De olho nas eleições, a petista adotou, inclusive, postura considerada mais raivosa no campo político.
Gleisi será interrogada por um juiz auxiliar do ministro Edson Fachin, relator da Lava Jato. Paulo Marcos de Farias é considerado o principal arquivo da operação no Supremo. O magistrado era o assessor mais próximo do ex-ministro Teori Zavascki, morto em acidente aéreo em janeiro, e permaneceu na equipe de Fachin para os casos do esquema de corrupção da Petrobras.
A estratégia para enfrentar a acusação de que recebeu repasse de R$ 1 milhão para sua campanha ao Senado em 2010 tem dois eixos centrais: mostrar contradições dos depoimentos dos delatores que dão sustentação à denúncia e atacar o trabalho feito pela Procuradoria Geral da República (PGR), sustentando que o órgão induziu o STF ao erro no recebimento da denúncia.
À corte, a defesa alegou “má-fé” de Janot na interpretação dos fatos. A pressão popular sob os ministros não deve produzir efeitos no julgamento. “Acreditamos em um julgamento técnico e isento por parte do STF, como tem sido a tradição da corte em matéria de competência penal originária”, diz o advogado Rodrigo Mudrovitsch, que defende a senadora.
Histórico
Gleisi, ex-ministra da Casa Civil do governo Dilma e uma das principais líderes do PT no Senado, figura entre os investigados na Lava Jato desde o início da operação no STF em 2015. Seu nome surgiu com as delações do ex-diretor da Petrobras Paulo Roberto Costa e do doleiro Alberto Youssef. A propina milionária teria sido solicitada por Paulo Bernardo. Segundo a Procuradoria, o valor foi desviado da Diretoria de Abastecimento da Petrobras e teria sido paga pelo papel de relevância dos dois no PT.
Com o avanço das investigações, as implicações feitas por delatores ao casal aumentaram. As citações de Costa e Youssef foram confirmadas pelo advogado Antônio Carlos Pieruccini, ligado ao doleiro e que também assinou acordo de delação premiada. Aos procuradores, Pieruccini confirmou ter levado, de carro, o dinheiro em espécie de São Paulo a Curitiba. Ao todo, foram quatro parcelas de R$ 250 mil cada. “Os três delatores se contradizem brutalmente. O conjunto das declarações deles leva a uma narrativa inconsistente e conflitante com tudo o que há nos autos”, sustenta Mudrovitsch.
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Fonte: Daniel Adjunto/Gazeta do Povo
Foto: Andressa Anholete/AFP
Foto: Andressa Anholete/AFP
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