Diz-se que a oportunidade só bate à porta uma vez. De olho no brocardo, Marco Feliciano (PSC-SP) faz dos seus antagonistas uma oportunidade a ser aproveitada. Há 20 dias, o deputado-pastor era um invisível membro do chamado baixo clero da Câmara. Hoje, é um personagem de projeção nacional.
Desde que foi guindado à presidência da Comissão de Direitos Humanos, em 7 de março, Feliciano degusta os protestos dos que o chamam de homofóbico e racista. Enxerga as manifestações com uma visão utilitária: muito mais ainda será muito pouco; um pouco menos já será demais.
Feliciano reage à insatisfação dos seus rivais com uma sucessão de poses. Ao acordar, defende a família brasileira no Twitter. Faz pose de defensor da moral. Antes de dormir, critica o casamento gay num dos cultos de suas igrejas. Faz pose de guardião da moral.
O que distingue o Feliciano de hoje do Feliciano de duas semanas atrás é a audiência. Cúmulo da ironia: a pretexto de combatê-lo, os adversários do deputado-pastor potencializaram-lhe a plateia. Agora, a grande pose de Feliciano não é para a os vizinhos, a igreja ou a bancada evangélica. Nada disso.
O deputado-pastor capricha na chapinha do cabelo e põe o seu melhor terno, a sua melhor gravata e as suas melhores pregações para gente como Caetano Veloso, Fernanda Montenegro, Wagner Moura… Na segunda-feira, os astros juntaram-se às 600 pessoas que gritaram para Feliciano em ato de repúdio no Rio: pede pra sair.
No mesmo dia, a bancada do PSC reunia-se na Câmara para informar que Feliciano fica. Na véspera, em entrevista à ex-BBB Sabrina Sato, o “perseguido” dera de ombros para os “perseguidores”. Deixar a presidência da comissão? “Só se eu morrer!”, dramatizara.
Esperteza suprema: apóstolo de si mesmo, Feliciano serviu-se das câmeras de uma arena pagã, o Pânico na TV, para posar diante da multidão de votos pentecostais como um pós-cristão lançado às feras da pós-modernidade –leões metafóricos de uma era de permissividades.
Retorne-se, por oportuno, ao primeiro parágrafo. Os adversários de Feliciano ainda não se deram conta. Mas tornaram-se uma oportunidade que o deputado-pastor aproveita. Para Feliciano, não importa que a reação seja seja política, que o protesto seja homossexual, que a manifestação seja negra. Importa apenas que o teatro continue. Aos olhos de Feliciano, a confusão tem cara de voto.
Fonte: Josias de Souza
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