Os conselheiros jurídicos de Jair Bolsonaro lhe mostraram que, num inquérito criminal, a fronteira entre a valentia e a imprudência é muito tênue. Dono de um temperamento mercurial, o presidente foi convencido a guerrear pela prerrogativa de prestar depoimento por escrito no inquérito em que é acusado de tramar a intervenção política na Polícia Federal. Na prática, Bolsonaro tenta blindar-se de sua própria língua, que por vezes parece ter vida própria.
Em junho, na sua única manifestação pública sobre o depoimento, Bolsonaro soou valente: "A PF vai me ouvir, estão decidindo se vai ser presencial ou por escrito, para mim tanto faz." Nesta quarta-feira, consumada a intimação, a Advocacia-Geral da União substituiu o "tanto faz" pela prudência de um recurso ao Supremo. Nele, pede a revisão do despacho em que Celso de Mello determinou à PF que interrogue o presidente oralmente.
No recurso, a AGU realça que o ministro Luís Roberto Barroso concedeu em 2017 ao então presidente Michel Temer a opção de ser interrogado por escrito no inquérito que apurou denúncias de corrupção no Porto de Santos. Bolsonaro foi informado de que há uma chance real de obter do Supremo tratamento análogo.
Politicamente, a equiparação a Temer é tóxica. Juridicamente, representa a segurança de que a língua de Bolsonaro não produzirá nenhuma surpresa capaz de complicar um processo que a equipe jurídica do governo encara como um jogo jogado. Dá-se de barato no Planalto que o procurador-geral da República Augusto Aras não oferecerá denúncia contra Bolsonaro, arquivando as denúncias do ex-ministro Sergio Moro.
Fonte: Josias de Souza/UOL
Foto: Adriano Machado
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