Ligações ocorreram antes de escândalo envolvendo contrato de R$ 1,6 bi para compra da Covaxin; Defesa não comenta, e Luis Heinze diz que não se lembra
O celular da diretora da Precisa Medicamentos, Emanuela Medrades, registra oito chamadas de um telefone usado por um capitão-de-mar-e-guerra com cargo de gerência no Ministério da Defesa e quatro ligações do senador Luis Carlos Heinze (PP-RS), um dos mais ferrenhos defensores do presidente Jair Bolsonaro na CPI da Covid no Senado.
Nos dois casos, Medrades foi procurada antes do escândalo envolvendo o contrato de R$ 1,61 bilhão para a compra de 20 milhões de doses da vacina indiana Covaxin.
As informações dos registros estão no relatório da quebra do sigilo telefônico da diretora da Precisa, determinada pela CPI.
Reportagem da Folha já havia mostrado que dados telefônicos da diretora, em posse da CPI, apontam contatos intensos com os principais gabinetes do Ministério da Saúde, no período da primeira proposta para negociar a Covaxin. Medrades, por exemplo, manteve contato mesmo com diretorias sem ligação aparente com a compra de imunizantes, como a diretoria de logística
Medrades tem trânsito fácil em Brasília, e coube a ela fazer as principais tratativas junto ao Ministério da Saúde para garantir a assinatura do contrato em 25 de fevereiro. A Precisa fez a intermediação do negócio.
Diante das suspeitas de fraude e corrupção, o contrato é investigado pela CPI e em procedimentos formais instaurados por PF (Polícia Federal), MPF (Ministério Público Federal), CGU (Controladoria-Geral da União) e TCU (Tribunal de Contas da União).
A CGU já apontou fraude em documentos usados no processo de contratação. No último dia 29, o ministro da Saúde, Marcelo Queiroga, afirmou que o contrato será cancelado –a parceria já está suspensa desde 29 de junho.
Bem antes das discussões e negociações sobre compra de vacinas contra a Covid-19, há registro de uma ligação para Medrades de um celular que é usado pelo capitão da Marinha Leonardo José Trindade de Gusmão. A patente é equivalente à de coronel no Exército e na Aeronáutica.
Gusmão é gerente do Departamento de Promoção Comercial do Ministério da Defesa. O departamento é vinculado à Secretaria de Produtos de Defesa.
As ligações do celular usado pelo militar foram feitas em 22 e 23 de julho de 2020. Fontes ouvidas pela Folha afirmam que a secretaria onde ele atua fez prospecções por insumos como seringas, agulhas e testes.
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