Com a chegada de Ciro Nogueira à Casa Civil, governo estuda oferecer um ministério ao partido, maior bancada do Senado, onde Bolsonaro sofre com CPI e resistência ao indicado para o STF
O senador Ciro Nogueira (PP-PI) assumirá a Casa Civil na quarta-feira com a missão de reorganizar a base do governo no Congresso no momento em que Jair Bolsonaro (Sem partido) atravessa o período de maior fragilidade desde que assumiu, fustigado pela CPI da Covid e pela queda de popularidade. Presidente do PP e um dos líderes principais do Centrão, Nogueira tentará costurar a aproximação do Palácio do Planalto com legendas expressivas, como o MDB, que tem dado dor de cabeça ao governo.
Trata-se de um partido estratégico, dono da maior bancada do Senado, com 15 cadeiras. Quatro senadores têm postura mais governista, enquanto outros quatro são oposicionistas. Os sete restantes adotam posição mais neutra.
Mudança de tom
No Planalto, se discute a oferta de um ministério a emedebistas do Senado. Nogueira já externou a interlocutores, porém, seu pessimismo em relação à possibilidade de atração de nomes do partido críticos ao governo, como o do senador e relator da CPI, Renan Calheiros (MDB-AL). Por outro lado, pesa na equação o fato de o MDB ter composto a base de apoio de todos as gestões desde a redemocratização, exceto a atual.
Ciro Nogueira já procurou Renan Calheiros. Na impossibilidade de trazer o relator da CPI para uma boa relação com o governo, o novo ministro espera pelo menos que o tom do emedebista seja menos agressivo — o que está longe de ter acontecido até agora.
Outro nome buscado foi o senador Eduardo Braga (AM), líder da bancada do MDB e também integrante da CPI. Antes de o novo ministro começar a dar expediente no Palácio, Braga já vinha ensaiado uma aproximação ao Planalto. A aliados, ele avaliou que a escolha de Nogueira para a Casa Civil foi acertada.
Maior resistência
A tentativa de aproximação com o MDB do Senado embute duas preocupações do governo na Casa. O primeiro é a rejeição à indicação do advogado-geral da União (AGU), André Mendonça, ao Supremo Tribunal Federal (STF), cuja maior resistência vem justamente de Renan Calheiros e aliados. Outro ganho seria a abertura de diálogo com os integrantes da legenda na CPI, de onde tem partido os torpedos com maior potencial de danos a Bolsonaro.
Se figuras históricas do MDB como Renan e Jarbas Vasconcelos (PE) fazem oposição a Bolsonaro no Senado, outros nomes da legenda estão dentro do governo por escolhas pessoais do presidente, como Fernando Bezerra (PE), líder do governo no Senado, e Eduardo Gomes (TO), líder da gestão no Congresso. Eles são, hoje, os principais entusiastas de uma maior aproximação entre a sigla e a gestão Bolsonaro.
Gomes defende que a legenda tenha participação na Esplanada dos Ministérios — ele próprio é um dos cotados —, mas pondera que a decisão cabe ao líder do partido, Eduardo Braga.
O plano que vem sendo estudado pelo Planalto, conforme informou o colunista Lauro Jardim, envolve Bolsonaro nomear Gomes na Secretaria de Governo, responsável pela articulação política, e migrar Flávia Arruda (PL-DF), atual comandante da pasta, para o Ministério do Meio Ambiente. Outra opção seria oferecer o Ministério do Turismo, que já foi comandado pelo partido no passado. Se a resistência for grande, há ainda uma alternativa de oferecer cargos de segundo escalão.
— Essa conversa de o MDB receber proposta para um ministério não vem de agora, mas voltou a ganhar força após a indicação do Ciro Nogueira para a Casa Civil — disse Gomes.
A visão dele não é compartilhada institucionalmente pelo partido e tampouco pelo presidente da legenda, o deputado Baleia Rossi. O dirigente afirma que, se algum emedebista virar ministro, terá que se licenciar da sigla. Essa posição foi comunicada oficialmente pelo MDB em nota divulgada no último dia 26. A relação com o governo azedou de vez quando o Planalto apoiou Rodrigo Pacheco (DEM-MG) à presidência do Senado, embora o MDB tivesse a maior bancada.
O próprio Bolsonaro já fez gestos para melhorar o clima com o partido e esteve com o ex-presidente e cacique da sigla José Sarney.
Desde quando foi anunciado como ministro da Casa Civil, Nogueira tem dito a aliados que pretende buscar entender as necessidades de cada senador e mostrar as do governo. Duas das principais armas são os cargos e a distribuição de emendas.
Fonte: O Globo
Foto: Jefferson Rudy
Nenhum comentário:
Postar um comentário
COMENTÁRIO SUJEITO A APROVAÇÃO DO MEDIADOR.