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RN POLITICA EM DIA 2012 ENTREVISTA:

sábado, 26 de setembro de 2020

SEIS ANOS APÓS CONDENAÇÃO, AGENTE QUE AFIRMOU QUE "JUIZ NÃO ERA DEUS" TEM DECISÃO FAVORÁVEL

Nove anos após episódio, Luciana Tamburini deixa de ser ré. 

Seis anos após ser condenada a indenizar o juiz que lhe deu carteirada durante uma blitz, a agente de trânsito Luciana Tamburini deixou de ser ré no processo e não precisará pagar a indenização de R$ 5 mil ao magistrado João Carlos de Souza Correa. 
O caso aconteceu no dia 12 de fevereiro de 2011. Na ocasião, a agente parou o juiz em uma blitz da Lei Seca, na Lagoa, Zona Sul do Rio. Ele fez o teste do bafômetro e não apresentou sinais de consumo de álcool. No entanto, estava sem carteira de habilitação e em um veículo sem placa. O magistrado argumentou que não sabia por quanto tempo podia andar com o carro antes de colocar aplaca, e Luciana disse: “Você é juiz e desconhece a lei?”.
A agente alegou que João Carlos tentou dar uma carteirada se apresentando como juiz e dando voz de prisão para ela. Ela então disse que ele poderia ser juiz, mas não era Deus e nem estava acima das leis vigentes. O magistrado entrou com processo contra Tamburini e em novembro de 2014,Luciana foi condenada a indenizá-lo.
"A população ficou do meu lado, teve uma mobilização. Fizeram vaquinha para eu pagar a indenização, mas não era só sobre pagar o valor", conta. Luciana doou o dinheiro para duas instituições e persistiu no processo. "Todo mundo falava para eu indenizá-lo e me livrar logo disso. Eu acreditei e persisti", completa.
Seis anos depois da sentença e nove anos após o episódio, a decisão foi reformada no último dia 9. Agora, favorável a Luciana e todos os agentes envolvidos. "Não me arrependo do processo, valeu a pena. Eu me sinto vitoriosa", afirma.
Segundo a agente, ter insistido no processo trouxe consequências aos seus familiares. "Eu sofri e minha família sofreu. Uma tia advogada foi demitida do escritório em que trabalhava por conta do sobrenome. Eles alegaram que ela não teria decisões favoráveis nos tribunais porque o judiciário era corporativista", diz.
Apesar da decisão favorável e dos casos recentes com grande repercussão—como o desembargador Eduardo Almeida Prado Rocha de Siqueira, que humilhou um guarda em Santos ao ser flagrado sem máscara durante a pandemia de covid-19 — Luciana acredita que as carteiradas não diminuíram.
"Hoje, com o celular, é mais fácil você denunciar, mas isso [carteirada] acontece todo dia, toda hora. De estudante de direito, advogado, juiz, promotor, procurador, desembargador, passando pelos filhos dos magistrados", destaca. "É muito feio, porque são pessoas que deveriam dar o exemplo e não burlar a lei. O judiciário desestimula o servidor fazer o trabalho correto", conclui Luciana. 

Fonte: O Dia 
Foto: Ernesto Carriço/Agência O Dia


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