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RN POLITICA EM DIA 2012 ENTREVISTA:

segunda-feira, 24 de agosto de 2020

"FAZER O QUÊ? SEPARAR NÃO POSSO, PORQUE IA ESCANDALIZAR O NOME DE DEUS", ESCREVEU FLOR DE LIS

Deputada é apontada pela Polícia Civil e pelo Ministério Público do Rio como mandante do assassinato do marido, o pastor Anderson do Carmo.
Apontada pela Polícia Civil e pelo Ministério Público do Rio (MPRJ) como mandante do assassinato do marido, o pastor Anderson do Carmo, a deputada federal Flordelis (PSD-RJ) teria arquitetado o crime por estar insatisfeita com a forma com que o pastor geria o dinheiro da família. Segundo os investigadores, ela tentou assassinar o pastor pelo menos seis vezes por envenenamento, além de contratar pistoleiros em outras duas oportunidades.
Durante o inquérito, a polícia e o MPRJ se depararam com uma troca de mensagens em que Flordelis sugere que o assassinato do marido seria a única saída. "Quando ela convence e fala com um outro filho que está aqui denunciado, o André, sobre esse plano de matar Anderson, ela fala da seguinte maneira: 'Fazer o quê? Separar dele não posso, porque senão ia escandalizar o nome de Deus', e então resolve matar. Ou seja, nessa lógica torta, o assassinato escandalizaria menos", contou o promotor Sergio Lopes Pereira, em entrevista concedida na manhã desta segunda-feira, 24.
"O grupo que se formou vendeu a imagem de um casal perfeito, de uma família caridosa, que criou 55 filhos, quando na verdade os autos mostram que isso foi um golpe, um meio de se conseguir proteção", afirmou o promotor. "Começou em maio de 2018 com tentativa de envenenamento do pastor Anderson. Era feito de forma sucessiva, gradual, cumulativa, para conduzir a morte do pastor. (Era usado) veneno, mais notadamente o arsênico, que era posto na comida e na bebida do pastor de forma dissimulada."
Responsável pelo inquérito, o delegado Allan Duarte, titular da Divisão de Homicídios de Niterói, Itaboraí e São Gonçalo, disse que a imagem de família unida era apenas uma fachada. "Não se tratava de uma simples família, mas de uma organização criminosa intrafamiliar", afirmou. "O inquérito traz a desconstrução dessa imagem de decência (da deputada), de pessoa caridosa. Ela vendia esse enredo para conseguir chegar à Camara dos Deputados, e depois tratar essa pessoa (Anderson) como objeto descartável."
Segundo Duarte, a motivação do crime foi financeira. "O pastor era o gestor dessa família, a cabeça pensante. Era ele quem geria a carreira artística, religiosa e política da deputada", informou o delegado. Haveria ainda um racha entre os filhos biológicos e os adotivos - que não recebiam o mesmo tratamento.
"Ela, além de arquitetar todo esse plano criminoso, financiou a compra da arma, convenceu pessoas a praticar esse crime, ela avisou sobre a chegada da vítima ao local, e ela ocultou provas", destacou Allan Duarte. "Pra gente fica muito claro, não resta a menor dúvida, de que ela foi a autora intelectual, a grande cabeça desse crime."
Sem prisão
Por exercer mandato parlamentar, Flordelis não pode ser presa neste momento. Apesar disso, ela já é ré no processo e será julgada em primeira instância junto aos demais acusados pela 3ª Vara Criminal de Niterói.
Sem poder pedir a prisão da deputada, a Polícia Civil e o MPRJ pediram à Justiça outras medidas cautelares, que já foram aceitas. Ela está impedida de ter contato com testemunhas do caso, não poderá se locomover fora da cidade em que reside ou em Brasília, terá o passaporte recolhido e também não poderá mudar de residência.
Durante as investigações do assassinato do pastor Anderson do Carmo, a polícia também se deparou com indícios de crime de rachadinha no gabinete de Flordelis. "A Rayane (dos Santos Oliveira, neta de Flordelis e presa na manhã desta segunda por envolvimento no assassinato), quando foi pra Brasília, foi com a promessa de ganhar R$ 15 mil por mês como assessora parlamentar, mas a gente tem documentação nos autos que mostram que estaria recebendo R$ 2,5 mil", contou o delegado, citando ainda a ocorrência de "nepotismo direto e cruzado".
Defesa da deputada
O advogado de Flordelis, Anderson Rollemberg, reafirmou nesta segunda-feira que sua cliente é inocente. Ele esteve na Delegacia de Homicídios de Niterói e disse que a deputada está “abatida e bastante chateada” “Queremos saber quais são as provas para que essas prisões tenham ocorrido e quais são os fundamentos para o indiciamento da deputada, já que a primeira fase dessa investigação passou longe de ter alguma prova que ela fosse a mandante. Essa investigação é contraditória, espetaculosa e está sendo usada como inquisição”, acusou Rollemberg.
O advogado seguiu criticando a atividade da Polícia Civil: “Essa investigação está equivocada. A deputada não pode ser responsabilizada por um ato de terceiro, seja filho ou neto. Assim como na (Operação) Lava Jato, eles estão pegando várias pessoas para que ambas se acusem. Volto a dizer: a deputada está chateada, e eu garanto que ela não tem envolvimento com a morte do pastor. A deputada tem com ela a inocência, e tudo isso será esclarecido. Ela é inocente e jamais mandaria (matar o marido). Ela não tinha ingerência no dinheiro e desprovinha de interesses financeiros”, afirmou Rollemberg.


Fonte: Marcio Dolzan/O Estado de São Paulo
Foto: Wilton Júnior/Estadão


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