O país já viu até onde Jair Bolsonaro é capaz de chegar para defender seus filhos e aliados. Há um mês, ele atropelou o ministro mais popular do governo e detonou uma crise em nome dessa proteção. Agora, o cerco montado contra seu grupo político no inquérito das fake news provoca uma escalada do conflito entre o presidente e o STF.
Os efeitos da controversa operação realizada nesta quarta-feira (27) podem ser calculados a partir dos elementos que se aproximam, cada vez mais, do Palácio do Planalto e dos escritórios da primeira-família.
Um dos pontos surge de passagem na decisão que autorizou buscas contra militantes acusados de atacar autoridades. Ao se referir ao chamado "gabinete do ódio", Alexandre de Moraes transcreve um depoimento que cita três assessores presidenciais que seriam responsáveis pela distribuição de notícias falsas.
O trio despacha nas cercanias da sala do presidente, no terceiro andar do Planalto, e trabalha em linha direta com Carlos Bolsonaro. Nenhum deles foi alvo dos 29 mandados expedidos nesta fase. O inquérito, porém, deixa esse caminho aberto.
Também é revelador o silêncio sobre Eduardo Bolsonaro. Documentos enviados à CPMI das Fake News apontaram que um assessor do gabinete do deputado opera um perfil nas redes sociais acusado de propagar discursos de ódio contra opositores da família. A dupla não foi incomodada pela Polícia Federal.
A reação inicial de Bolsonaro foi armar suas defesas. Convenceu o procurador-geral e o advogado-geral da União, que haviam endossado o inquérito, a protestar contra a investigação. Fez também com que o novo ministro da Justiça divulgasse uma nota contra a ação do Supremo —tarefa que Sergio Moro se recusava a cumprir, o que enfurecia Bolsonaro.
O inquérito do Supremo nasceu sob o signo do arbítrio, concentrando poderes desmedidos nas mãos do tribunal. Seu avanço passa a representar um risco para o presidente e pode levar a uma conflagração irreversível entre a corte e o Planalto.
Fonte: Bruno Boghossian/Folha de São Paulo
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