O anúncio do presidente eleito Jair Bolsonaro na terça-feira (25) de que enviará em janeiro, ao Oriente Médio, o futuro ministro da Ciência e Tecnologia Marcos Pontes para conhecer o projeto de dessalinização de Israel e implementar a técnica para irrigar a agricultura familiar da região Nordeste usando água de poços é um combo de propaganda enganosa e desinformação.
Em Israel, 97% da água que abastece a agricultura irrigada tem origem em esgoto tratado e água de reuso. O custo da operação também seria muito alto para usar na irrigação. Isso porque 1 metro cúbico de água dessalinizada do mar custaria, em média, 1 dólar. Outro dado que demonstra o desconhecimento de Bolsonaro sobre o tema está na experiência do próprio Brasil na técnica de dessalinização extraindo água de poços.
Há mais de 15 anos, pelo menos, existem projetos em curso de sistemas de dessalinização sendo implementados no semiárido nordestino utilizando técnicas adaptadas para a realidade local brasileira, com tecnologia nacional chancelada pela Embrapa.
No Rio Grande do Norte há 225 dessalinizadores instalados, a maioria em comunidades rurais, que beneficiam, em média, mais de 80 mil pessoas. Só o município de Mossoró possui 50 sistemas.
Dos 225 dessalinizadores do Rio Grande do Norte, 136 são mantidos pela secretaria de Estado do Meio Ambiente e Recursos Hídricos (Semarh), 69 foram instalados com recursos do programa federal Água Doce e mais 20 através do programa federal Água para Todos. Os sistemas custeados com verba da União são administrados pelas próprias populações nas comunidades. A Semarh faz apenas a manutenção e eventuais consertos.
A primeira experiência de dessalinização usando água de poços no RN foi realizada na comunidade de Caatinga Grande, região de São José do Seridó, antes do programa Água Doce. Nessa comunidade, a água já era usada na produção de tilápia e para irrigar erva sal para consumo de gado caprino.
Criado pelo Ministério do Meio Ambiente na gestão do ex-presidente Lula, o programa Água Doce já instalou 575 dessalinizadores em sete estados nordestinos, dos quais 540 estão em funcionamento beneficiando diretamente 216 mil pessoas.
Na segunda etapa do projeto Água Doce a expectativa é de que sejam instalados mais 35 sistemas. Atualmente, levando em conta apenas sistemas desse programa, o RN fica atrás apenas do Ceará e da Bahia, com 234 e 145 dessalinizadores instalados, respectivamente.
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Fonte: Rafael Duarte/Saiba Mais
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