Nada mais apropriado para marcar o aniversário de 10 anos do escândalo do mensalão do que considerações feitas sobre o assunto por um ex-mensaleiro.
Uma dos 24 condenados pelo Supremo Tribunal Federal, no momento cumprindo pena em regime aberto, João Paulo Cunha, ex-presidente da Câmara dos Deputados, reuniu-se, ontem, com 80 correligionários na sede do PT em Osasco, na grande São Paulo.
João Paulo falou durante quase uma hora. Analisou a conjuntura amarga enfrentada por seu partido. E naturalmente disparou algumas preciosidades. Uma delas:
- O PT errou? Claro que errou. Errou demais. Errou no mensalão. Errou agora de novo [no caso da roubalheira na Petrobras]. Mas não é por isso que o PT tem apanhado tanto.
Na verdade, segundo João Paulo, o partido é alvo de ataques de “uma elite contrariada com a administração petista”. Sacou? Uma elite que não gostou da ascensão dos pobres.
João Paulo não definiu com clareza o perfil dessa elite. Mas a julgar pelo discurso de outros petistas que pensam como ele, trata-se da direita apoiada “pela mídia monopolizada”.
A condescendência de João Paulo com os erros do seu partido ganhou destaque quando ele disse que o PT, em suma, nada fez de diferente do que os outros partidos fizeram.
É o resgate do argumento tacanho que ensina: se os outros fazem por que não podemos fazer?
João Paulo repete Lula quando tentou confundir o mensalão com Caixa 2 de campanha. Mensalão foi o uso de dinheiro público para subornar deputados e leva-los a votar como mandava o governo.
Caixa 2 é o uso de dinheiro não declarado à Justiça Eleitoral para financiar campanhas e comprar o apoio de partidos.
As duas coisas são crimes. Mas o mensalão é mais crime do que Caixa 2.
Por fim, curioso o discurso do PT. Ele contempla, quando oportuno, o “nós contra eles”. Mas não despreza o “só fizemos o que os outros fazem”.
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