PORSCHE CAYENNE TURBO S, EM DEPOIMENTO A FLÁVIA TAVARES
Sou irresistível. Não há espaço ou razão para modéstia. Meus adornos de couro caramelo, meu feitio sinuoso, meu rom-rom macio. Quem resistiria? O juiz Flávio Roberto de Souza cedeu. Sucumbiu à vontade de me desfrutar. Rodopiou pelo Rio de Janeiro montado nos meus 550 cavalos, serelepe, convicto de que escaparia do flagra de seu pecadilho. Mas eu já tinha dono.
Comecemos por ele. Até dia destes, estava eu à sombra na mansão de Eike Batista, meu proprietário, no Rio. Ele está encrencado, sob o peso de acusações de manipulação de mercado, uso de informação privilegiada e formação de quadrilha. Eike foi criando empresa atrás de empresa, seduzindo investidores e autoridades com exibições mirabolantes de PowerPoint. Passou de Midas a mico em menos de uma década.
Sua meninice nos negócios se espelha em sua vida privada. Eike encoleirou a modelo Luma de Oliveira – com quem teve dois filhos, Thor e Olin –, alardeava que queria ser o homem mais rico do mundo e, é aí que eu entro, passou a colecionar carrões. Estacionou na sala de estar um Lamborghini Aventador, seu queridinho. Tinha um SLR McLaren que foi vendido porque Thor atropelou e matou um ciclista, destruindo a máquina. O garoto foi absolvido dias atrás. No final de 2014, Thor ligou para uma loja de importados em São Paulo e me encomendou. Eu, um Porsche Cayenne Turbo S, placa DBB0002, ano 2013, modelo 2014.
Quem pagou por mim foi Eike. À vista. Coisa de R$ 600 mil. Eike não é mais o mesmo, compra carro de segunda mão. Eu já tinha sido de outro. Meu primeiro foi o doutor Edson Elias da Silva, cuja família fundou e administra as Faculdades Metropolitanas Unidas (FMU). Seu irmão, Eduardo, ou Eduardinho, é cliente da importadora oficial da Porsche no Brasil, que me trouxe a estas terras tropicais.
Foram três meses da minha fabricação à minha chegada aqui. Nasci em Leipzig, na Alemanha. Minha construção levou 24 dias. A linha de montagem que me concebe não é aquele vapt-vupt de carros 1.000. Meu painel é costurado à mão. O teto é aveludado. Não me rendi a modernidades. Nada de botão automático de ignição. Para me ligar, você precisa de chave. Só de charme, mostro as horas num relógio analógico. Um quê de conservadorismo é atraente.
Carrego até cinco, mas, em nome do conforto, o ideal é que quatro pessoas me ocupem. Apesar de meu tamanho – sou grande, assumo –, chego a 100 quilômetros por hora em menos de cinco segundos. Quem me conhece enlouquece com meu jeitão família combinado com meu motor esportivo. Afinal, minha marca ficou famosa pelos carros velozes, agressivos. Não poderia abrir mão disso. Meu motor é 4.8 – V8. Tanto torque não sai barato. Meus irmãos mais novos custam R$ 969 mil. O seguro varia muito, mas pode chegar aos R$ 80 mil anuais. Só meu par de freios de cerâmica vale R$ 70 mil. São outros R$ 60 mil pelo som Burmester distribuído em 18 alto-falantes. Sou exigente: os vendedores da concessionária vão te sugerir que use somente gasolina premium – o que já está saindo a mais de R$ 4 o litro. Na estrada, seco 1 litro de combustível para percorrer menos de 9 quilômetros. Na cidade, esse litro não dá nem para 5 quilômetros. Nada que preocupe meus fãs.
Fonte: Flávia Tavares/http://epoca.globo.com/
Fotos: rafael Moraes/ Extra e Samantha Lima/Folhapress
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