Do ex-diretor geral do Walfredo Gurgel, médico Sebastião Paulino, sobre o apagão que ocorreu ontem à noite na unidade de saúde.
Jamais vi, em toda a minha existência, tanta negligência com a vida humana. A maior Unidade Hospitalar do Estado em situação catastrófica.
Situação odiosa e incompreensível. Qualquer encenação que tente justificar, só acresce à memória de cada plantonista, uma torrente de sentimentos reprováveis e primitivos.
Foram mais de duas horas sem energia elétrica.
Centro cirúrgico, Centro de Recuperação de Operados (UTI improvisada), Unidade de Terapia Intensiva Pediátrica e demais Unidades de Terapia Intensiva que acolhem adultos, além de todo o ambiente de atendimento emergencial…
Tudo no escuro.
Muita dor, ranger de dentes e pavor.
Cenário dantesco que deixa transparecer a inconsistência de ações simples e preventivas, cujo vocábulo esquecido pode ser escrito da forma seguinte: “Manutenção”.
Geradores precisam de manutenção.
A inexistência de um Plano de Contingência que contemple o “todo” e o “tudo” de uma Unidade Hospitalar pode ensejar um fato criminoso.
O que aconteceu na noite de ontem, sem sombra de dúvida, poderia ter resultado em um incremento do obituário nosocomial.
Foram momentos de terror que transformaram profissionais de plantão em heróis impotentes, paradoxalmente, dada a impossibilidade de exercer o ofício escolhido, ladeados de doentes graves.
Noite de agonia, cujo desespero aumentava a cada minuto…
Minutos que mais pareciam uma eternidade.
Não bastasse tanto gemido e dor, em plena escuridão, ainda soavam continuamente os alarmes de modernos equipamentos que dão suporte à vida, aumentando a incerteza de uma equipe acerca do que poderia acontecer no instante seguinte.
Hoje, mais do que nunca, tenho a certeza plena da presença de Deus naquele ambiente.
Ele não permitiu que acontecessem acidentes com múltiplas vítimas, nem muito menos a chegada de outras vítimas da violência urbana.
Sei que Ele, em sua infinidade bondade, onipotente e onisciente como “É”, guiou as mãos de dois Neurocirurgiões que estavam operando, mesmo com iluminação de celular, dando-lhes equilíbrio, força e fé.
De outro modo, ainda que o deslinde tenha sido de paz, responsabilidades precisam de uma apuração, sob pena de omissão gerencial em todos os escalões.
Natal, 25 de junho de 2014.
Sebastião Paulino da Costa
Ex – Diretor Geral do Walfredo Gurgel
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COMENTÁRIO SUJEITO A APROVAÇÃO DO MEDIADOR.