O serralheiro Itamar Santos, de 54 anos, que teve um fusca ano 1975 incendiado durante o protesto contra a Copa do Mundo no último sábado, já conseguiu arrecadar dinheiro suficiente para comprar um carro novo: ele disse ter recebido 7.000 reais após o número de sua conta bancária ser publicado e compartilhado nas redes sociais.
“O meu fusca custava [sic] uns 6.000 reais. Se der, vou ver se compro um carro melhor, mas pode ser um fusca mesmo. Qualquer coisa que [sic] ande para eu não ficar andando a pé”, disse ao site de VEJA. Após a repercussão do caso, pelo menos seis páginas na internet promoveram uma “vaquinha” para ajudar o serralheiro. “Eu não sou orgulhoso nem rico. Se quiserem me dar, aceito, mas não estou pedindo nada."
Santos afirmou que usava o carro para carregar ferramentas de trabalho, como máquina de solda, lixadeira e material de construção. Como ficou sem o carro nesta semana, teve que pedir ajuda a amigos para transportar os objetos até os locais de trabalho. “Já carreguei até escada e andaime em cima do carro”, disse.
O fusca de cor acre era o xodó de Santos. Por mais que não estivesse em perfeito estado de conservação, o automóvel tinha os bancos de um Honda e “nunca dava problema”, segundo o serralheiro. “O fusca é fogo. Se ele quebrasse, era só amarrar um pedaço de arame para já sair andando. É o melhor carro para pobre.".
Desde que ganhou o automóvel do irmão há cinco anos, Santos tinha o hábito de dar carona aos conhecidos da igreja que frequenta no Centro de São Paulo. No dia do protesto, ele levava três idosos e uma criança de seis anos para casa após o fim da cerimônia religiosa. “Se soubesse que teria protesto, não tinha ido”, disse.
Como as ruas do Centro estavam interditadas pelos manifestantes, Santos tentou desviar dos bloqueios pela Praça Roosevelt. No local, ele deparou-se com uma barricada montada por mascarados, que atearam fogo em um colchão. “De repente, não sei como, o fogo atingiu o carro e o colchão ficou grudado”, disse.
Vídeos publicados na internet mostram o fusca passando por cima do objeto incendiado – e o fogo se alastrando rapidamente. Após o incidente, ele parou e os passageros desembarcaram em meio a desespero e gritos, conforme imagens divulgadas pela Secretaria de Segurança Pública. “Ninguém ficou ferido, mas eu fiquei apavorado."
Com o carro em chamas, Santos ainda tentou soltar o colchão do pneu avançando com o veículo por alguns metros, mas, em poucos minutos, o fusca foi totalmente consumido pelas chamas. Do outro lado da rua, black blocs tentavam virar uma viatura da Guarda Civil Municipal.
O ato contra a Copa que começou pacífico degenerou em vandalismo. No total, 135 pessoas foram detidas pela Polícia Militar, que usou bombas de gás lacrimogêneo para conter a depredação. O serralheiro disse não concordar com os cenas vistas no centro: “Eles deviam fazer coisas mais bonitas, com mais sabedoria, sem ficar quebrando loja e vidraça”.
Na madrugada do domingo, Santos ainda teve de voltar ao local para retirar o carro da via, a pedido da Companhia de Engenharia de Tráfego (CET). Para isso, desembolsou 150 reais para guinchar o automóvel até a sua casa na Zona Sul da capital.
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Fonte: Eduardo Gonçalves/http://veja.abril.com.br/
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