Recordista em mandatos consecutivos na Casa, peemedebista é favorito para comandar a Câmara pelos próximos dois anos, mantendo o acordo com o PT.
Para um observador desavisado, a escolha do potiguar Henrique Eduardo Alves, do PMDB, para presidir a Câmara dos Deputados nesta segunda-feira é um caminho natural. O PT, dono da maior bancada, presidiu a Casa no primeiro biênio da legislatura, e agora é a vez do PMDB, que tem o segundo maior número de deputados. Dentre os peemedebistas, o nome de Alves foi escolhido pela maioria, com a bênção do vice-presidente da República, Michel Temer. Alves é o deputado mais longevo da Câmara, com 11 mandatos. Nunca mudou de partido e tem boas relações na base governista e na oposição. Em síntese, o nome de Alves seria, de fato, natural para comandar a Casa, não fosse sua biografia de histórias mal - ou nunca - explicadas.
Em 2002, Alves quase foi vice de José Serra na candidatura à Presidência da República. Só perdeu o posto porque sua ex-mulher revelou que o peemedebista tinha contas em ao menos três paraísos fiscais: Suíça, Nassau e Ilhas Maurício. Na época, o saldo ultrapassaria 15 milhões de dólares. O tucano perdeu a eleição, mas o PMDB não teve dificuldade em embarcar no governo Lula nos anos seguintes.
Em 2007, Henrique Alves foi eleito líder do PMDB na Câmara, cargo que ocupava até este final de semana - foi substituído por Eduardo Cunha, eleito na noite deste domingo. Recentemente, defendeu desavergonhadamente ministros envolvidos em corrupção, como Wagner Rossi, da Agricultura, e Pedro Novais, do Turismo.
Henrique Eduardo Alves é eficiente no papel de porta-voz dos interesses dos deputados peemedebistas diante do governo - especialmente nos ministérios sob a batuta da sigla. Mas seu grande trunfo é nunca incomodar seus colegas de Câmara, grande parte adepta de práticas imorais ou ilegais.
Nesta segunda-feira, ele terá três adversários: Rose de Freitas (PMDB-ES), Júlio Delgado (PSB-MG) e Chico Alencar (PSOL-RJ). Pelas contas de líderes na Câmara, nenhum deles tem chances de atrapalhar a vitória de Alves.
Rolos - Reportagem de VEJA mostrou que Alves destinou recursos de sua verba indenizatória da Câmara para uma empresa- fantasma ligada a um ex-assessor do PMDB. Oficialmente, a Global Transportes alugava carros para Henrique ao custo de 8 300 reais mensais. Na prática, a companhia tem uma sede de fachada e não possui patrimônio. Nem o deputado soube dizer qual carro a Global fornece a seu gabinete. A Folha de S. Paulo também mostrou que Alves direcionou parte de suas emendas parlamentares a uma construtora nada convencional: a Bonacci, com sede de fachada (mais uma vez) e ligada a um ex-assessor dele (mais uma vez).
As revelações, entretanto, não foram suficientes para estremecer a candidatura do peemedebista. Nem a oposição rompeu com ele: o PSDB, de olho na divisão dos cargos na Mesa Diretora, não demonstra constrangimento em continuar no barco peemedebista. Alves passou a evitar a imprensa.
No Rio Grande do Norte, o nome de Alves é citado em escutas telefônicas interceptadas pelo Ministério Público sobre uma máfia que desviava recursos da saúde. De acordo com o conteúdo dos grampos, o deputado é citado como um dos contatos políticos dos criminosos.
Sem projetos - Em 42 anos de mandato, o mais antigo deputado em atividade aprovou apenas um projeto de lei que elaborou sozinho: uma medida prosaica que disciplinava a expedição de documentos escolares, em 1983. Mas, na carreira de Henrique Alves, a falta de propostas foi suprida pelo estilo conciliador - ou, às vezes, conivente.
Quando o nome de Henrique Eduardo Alves foi escolhido para comandar a Casa, o Palácio do Planalto, a exemplo do que fez com o também peemedebista Renan Calheiros no Senado, optou por não se envolver. Nesse caso, o recado é claro: a presidente Dilma Rousseff não quer problemas com o PMDB, aliado que pretende carregar em sua chapa nas eleições de 2014.
Fonte: Gabriel Castro/Veja
Foto: Gustavo Lima/Agência Câmara
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