No papel de si mesmo, Lula estrelou em São Paulo uma cerimônia festiva da CUT. Pegou carona no sucesso do filme de Steven Spielberg. Mal comparou-se a Abraham Lincoln. Não se deu conta de que o pedaço bom da biografia do modelo não é comparável à sua e o naco que admite comparação não é bom.
Presidente, Lula não gostava de ler. Tinha especial aversão a jornais. Davam-lhe azia, chegou a declarar. Ex-presidente, já lê até livros. “Estou lendo muito agora”, ele informou. “…Estava lendo o livro do Lincoln e fiquei impressionado como a imprensa batia no Lincoln, em 1860, igualzinho bate em mim.”
Chama-se ‘Team of Rivals: The political Genius of Abraham Lincoln’ a obra evocada por Lula. Em português, quer dizer algo assim: ‘Time de rivais: o gênio político de Abraham Lincoln’. Escreveu o tomo a pesquisadora americana Doris Kearns Goodwin. Foi dessas páginas que Spielberg retirou matéria prima para o seu Lincoln.
No discurso da CUT, Lula falou do próprio umbigo antes de chegar a Lincoln. Sem citar seus alvos mais frequentes –a mídia, FHC e o tucanato—, disse que são conhecidas as intenções dos seus antagonistas. Acha que o criticam porque têm “bronca” do seu “sucesso”. Também não engolem o “sucesso da Dilma”.
Foi contra esse pano de fundo que Lula injetou Lincoln em sua desconvertsa. Por sorte, expressou-se no expressou-se no gerúndio –“estou lendo”. Decerto não chegou ainda à parte realçada por Spielberg nas duas horas e meia de sua já célebre fita.
Os EUA respiravam a pólvora dos últimos tiros da Guerra Civil. Com o Sul já batido, Lincoln arrancou da Câmara dos Deputados, em janeiro de 1865, a aprovação da histórica 13ª emenda à Constituição americana. Aboliu a escravidão e livrou das correntes algo como 4 milhões de seres humanos.
No pedaço malcheiroso da história, conta-se que Lincoln prevaleceu valendo-se de meios espúrios. Chegou à abolição comprando deputados. Ofereceu-lhes dinheiro e cargos. Aprofundando-se na leitura ou assistindo ao filme, Lula talvez se dê conta de que a comparação co Lincoln não o favorece.
A propósito, a audiência da CUT incluía Delúbio Soares, ex-tesoureiro da central sindical e ex-gestor das valerianas arcas ‘não contabilizadas’ do PT. Atribui-se a Lincoln um raciocínio conhecido: “Pode-se enganar todas as pessoas algum tempo. Pode-se enganar algumas pessoas todo tempo. Mas não se pode enganar todas as pessoas todo o tempo.”
Hoje, sabe-se que Linconln nunca disse essa frase. Mas Lula parece discordar da última parte. Aferrado ao improvável ‘eu não sabia’, acha que é possível enganar todo mundo pela eternidade.
Na madrugada de domingo para segunda-feira, Daniel Daniel Day-Lewis, o ator que encarnou Linconln no filme de Spielberg, beliscou o Oscar de melhor ator. Lula não merece tanto. Porém, do modo como se esforça para reescrever a própria história, acaba fazendo juz a uma estatueta de roteiro original. Não faria feito também na categoria de efeitos especiais.
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