O analista Roberto Leandro Grobman, 41, afirmou em entrevista à Folha ter presenciado a chegada de malas de dinheiro ao apartamento do deputado federal Gabriel Chalita (PMDB-SP) em 2005, quando ele era secretário da Educação de São Paulo.
As malas, diz ele, foram levadas ao apartamento pela advogada Marcia Alvim, uma das principais assessoras de Chalita. Na época, Grobman mantinha relacionamento com ela. "Vi Marcia trazendo malas de dinheiro. Jogava o dinheiro no chão e separava."
A Folha revelou no sábado que o Ministério Público instaurou 11 inquéritos para investigar Chalita por enriquecimento ilícito, corrupção e fraude em licitação a partir de depoimentos de Grobman.
Ele diz que era assessor informal de Chalita na secretaria, com telefone, e-mail e cartão do Estado. Apresentou fotos de viagem oficial que fez com Chalita e Marcia a Paris, para evento da Unesco.
O INÍCIO
Montei a empresa Interactive com Nilson Curti, superintendente do COC [grupo educacional privado], em 1999. Em 2003, fui apresentado por Chaim Zaher [ex-dono do grupo COC] a Chalita. Fui trabalhar na secretaria e tinha sala, e-mail e cartão do governo.
ESTRATÉGIA
Chaim colocou pessoas de sua confiança em cargos estratégicos. O Milton Dias Leme, na diretoria da Fundação para o Desenvolvimento da Educação [FDE], o Farid Mauad, diretor da COC, no Conselho Estadual da Educação, e eu na secretaria. Era para a gente direcionar contratos do governo com o COC.
ASSESSOR INFORMAL
Como domino várias línguas, passei a acompanhar Chalita ao exterior. A gente acordava cedo, corria e fazia ginástica, compras. Como conheço informática, fui incumbido por ele de cuidar da automação da cobertura em Higienópolis.
O CUSTO
Nilson Curti um dia comentou comigo que o "custo Chalita" já era de R$ 11,6 milhões. Era a despesa do Chaim com ele. Curti cuidava de toda a parte financeira. Mas a Interactive era uma empresa de caixa dois, para operação política.
AS MALAS
Eu ficava no apartamento de Higienópolis acompanhando a reforma. Vi a Marcia Alvim trazendo malas de dinheiro, eram malas de propagandista, de couro, grandes, grossas. Ficavam guardadas no armário espelhado em frente ao banheiro. Jogava o dinheiro no chão e separava, pagava o estúdio do programa de TV. Também levavam o dinheiro na sala do Paulo Barbosa [braço direito de Chalita, adjunto na época] na secretaria. Ele guardava num cofre verde do lado esquerdo da mesa.
O ROMPIMENTO
Ele já tinha feito toda a reforma no apartamento [em Higienópolis] com dinheiro do empresariado. Eu fazia vista grossa, mas aí a Márcia me falou que ele tinha comprado o apartamento no Rio. Foi o que me fez brigar com ele. Eu fui falar que não era ético e ele respondeu que a ética é relativa, que podia provar isso para mim pela semiótica, que eu deveria calar a boca. Me senti humilhado.
AS AMEAÇAS
Quando disse ao Chaim que havia procurado o Ministério Público, ele começou a me ameaçar, disse que sabia onde meus filhos moram, que o ministro da Justiça [José Eduardo Cardozo] era funcionário dele, dava aula na EPD [Escola Paulista de Direito] e ele tinha a PF na mão. Mas não vou me calar. Acredito na cidadania.
A COMPRA DE LIVROS
O COC comprou 34 mil livros da "Pedagogia do Amor" [de autoria do ex-secretário]. Os livros eram uma moeda de troca do Chalita. Colocamos tudo na minha sala e na sala do Chaim num escritório de operações do Chaim e do Chalita. Havia 34 mil livros e eu tinha medo que a estrutura do prédio não aguentasse.
Fui até perguntar para o zelador. Falei que precisava tirar de lá, e quem tirou foi o motorista do Chaim.
Fonte: José Ernesto Credendio e Mário César Carvalho/Folha de São Paulo
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