O senador Renan Calheiros (PMDB-AL) e o deputado Henrique Eduardo Alves (PMDB-RN), favoritos às presidências do Senado e da Câmara, usaram seus cargos para favorecer aliados que perderam o emprego ou estiveram envolvidos em suspeitas de corrupção.
Documentos obtidos pela Folha por meio da Lei de Acesso à Informação dão uma mostra do lobby feito pelos peemedebistas para tentar emplacar alguns nomes em cargos do governo federal.
Um dos exemplos ocorreu em 2011. Oito meses após o diretor da Polícia Rodoviária Federal deixar o cargo, os dois parlamentares se uniram para, em novembro daquele ano, tentar emplacá-lo na Agência Nacional de Transportes Terrestres (ANTT).
Hélio Derenne, o diretor, havia pedido exoneração do cargo após o Ministério da Justiça abrir sindicância "para apurar a ausência de fiscalização e a prática de atos ilícitos nas rodovias federais, a falta de planejamento e o mau uso de recursos públicos" pela polícia.
A Controladoria-Geral da União (CGU) também abriu investigação sobre pagamento de propinas em estradas federais e sucateamento em bases da polícia.
Juntos, o senador e o deputado enviaram um documento ao ministro dos Transportes dizendo que as qualidades do indicado permitiam "pautar sua atuação e seus posicionamentos pelos princípios da moralidade administrativa e da efetividade das decisões". A indicação não foi aceita pelo governo.
Renan também enviou, em novembro de 2009, um pedido ao Ministério da Defesa, em conjunto com o senador Gim Argello (PTB-DF), para nomear Raimundo Costa Ferreira Neto, o Ferreirinha, no aeroporto de Brasília.
Três anos depois, Ferreirinha foi investigado pela PF por ligação com Carlinhos Cachoeira, empresário condenado por comandar um esquema de jogo ilegal e corrupção de agentes públicos.
Em 2007, quando era presidente do Senado, Renan também solicitou à PF cópia de depoimento sigiloso de um advogado que fez acusações contra ele.
Bruno de Miranda afirmava ter testemunhado um esquema de desvio de verbas para políticos do PMDB, entre eles Renan. O Ministério da Justiça não deixou claro se atendeu o pedido de Renan.
Em outra oportunidade, Henrique Alves tentou emplacar um primo de Renan, Marcos Calheiros, na chefia do Ministério da Pesca em Alagoas.
Presidente do PSC de Alagoas, Marcos disse à Folha que é "parente e amigo pessoal" de Renan, mas que a indicação não foi feita por ele. "Foi por conta do meu currículo, mas não deu certo."
INDICAÇÕES
Henrique Eduardo Alves afirmou, via assessoria, que as indicações foram feitas em nome da bancada do PMDB.
Os ofícios, no entanto, falam em "meu apoio". "Não são indicações pessoais. É natural os líderes partidários apoiarem nomes apresentados por deputados ou por bancadas dos estados."
Ele disse ainda que as bancadas têm o direito de encaminhar nomes para compor "o governo que integramos".
Renan não se manifestou. Hélio Derenne não foi localizado. Raimundo Costa Ferreira Neto não ligou de volta. Ele já havia declarado que jamais teve contato com Cachoeira.
Fonte: Fernando Mello/Folha de São Paulo
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