Acadêmicos conseguiram ordenar votos, que deveriam estar embaralhados.
Eles serão chamados novamente para testar aperfeiçoamento no sistema.
O Tribunal Superior Eleitoral (TSE) afirmou nesta quinta-feira (29) que pretende chamar o grupo de acadêmicos da Universidade de Brasília (UnB) para realizar os próximos testes em urnas eletrônicas.
"Nesse caso, onde houve sucesso na tentativa implementada pela equipe da UnB, nós pretendemos chamá-los novamente para testar as correções que nós vamos implementar", afirmou o secretário de Tecnologia da Informação do tribunal, Giuseppe Tutrajanino.
O evento de testes de urnas eletrônicas brasileiras, que aconteceu em meados de março, reuniu especialistas de todo o país, divididos em nove equipes, que simulam ataques para avaliar a segurança do sistema eletrônico de votação.
O secretário reafirmou que dos 20 testes apresentados, "só um obteve sucesso definitivo, que foi o da Universidade de Brasília".
O professor da faculdade de Ciência da Computação da UnB que coordenou o grupo de testes da universidade, Diego Aranha, explicou de maneira simples o que foi descoberto pelos investigadores. "Encontramos uma fragilidade que permite reverter o embaralhamento dos votos, como em uma urna física, com votos de papel. Encontramos uma maneira de ordenar os votos", afirmou.
Segundo ele, o embaralhamento que era realizado pelas urnas eletrônicas era "fraco" e, a partir das sugestões feitas pela equipe, se implementadas pelo tribunal, será possível que o "embaralhamento fique mais forte". Sugestões foram propostas pela equipe da UnB à Secretaria de Tecnologia de Informação do TSE.
Certificados
Foram entregues nesta quarta , na sede do TSE em Brasília, certificados aos grupos de investigadores que, mesmo não quebrando o sigilo do voto, contribuíram para os testes das barreiras de segurança das urnas eletrônicas.
"Em outros grupos não houve êxito na quebra de sigilo, mas o material e a estratégia apresentada nesses testes já nos serve muito para sugestões preventivas. Já é material suficiente para termos oportunidade de melhorar", disse o secretário de TI do tribunal, Giuseppe Tutrajanino.
O presidente do TSE, ministro Ricardo Lewandowski, afirmou no último dia 22 que não houve violação da urna eletrônica durante o teste, porque os especialistas tiveram acesso a um código que ajudou a testar o sistema de votação. Segundo ele, o objetivo foi buscar formas de aperfeiçoamento.
Segundo o TSE, a equipe da UnB conseguiu refazer o sequenciamento dos votos apresentados pelo Registro Digital do Voto (RDV), "que é uma lista emitida após o processo de votação e apuração dos votos, que permite aos partidos políticos e outros interessados realizarem uma recontagem dos votos caso seja necessário". O TSE afirma que o RDV é um processo posterior, "totalmente apartado do sistema de totalização dos votos".
O tribunal afirma que os votos digitados na urna são gravados de forma aleatória, a partir de um algoritmo computacional, o que impede seu sequenciamento, uma vez que são embaralhados digitalmente na hora em que são gravados. "O teste da equipe da UnB conseguiu, a partir do RDV, refazer a ordem com que os votos foram digitados, mas não conseguiu identificar os eleitores que efetivamente digitaram os votos no equipamento."
Brecha em 2009
É a segunda vez que o TSE promove esse tipo de teste com a urna eletrônica. O primeiro foi realizado em 2009 e, segundo o tribunal, nenhum participante foi capaz de manipular votos. Porém, na ocasião, o especialista em tecnologia da informação Sérgio Freitas conseguiu capturar ondas eletromagnéticas que, em tese, permitiriam detectar o voto do eleitor, pois, segundo Freitas, cada tecla tem um som específico.
Na época, ele classificou como muito improvável a possibilidade de violação do sigilo do voto do eleitor no dia de uma eleição, pois seria inviável captar interferências nas seções eleitorais.
Pela descoberta, Freitas ganhou um prêmio de R$ 5 mil. O segundo lugar foi para a equipe da Controladoria-Geral da União (CGU), que recebeu R$ 3 mil, e o terceiro, para o grupo da Cáritas Informática, empresa privada de auditoria, que levou R$ 2 mil. A equipe conseguiu lacrar o envelope que guarda a “flash memory” da urna eletrônica sem deixar qualquer vestígio. A sugestão serviria, segundo o TSE, para aprimorar o lacre.
Fonte: G1
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