O interrogatório do secretário-chefe do Gabinete Civil, Kalazans Bezerra, o mais aguardado pela Comissão Especial de Inquérito (CEI) que investiga os contratos da Prefeitura de Natal, acabou ofuscado ontem pelo depoimento do titular da pasta de Comunicação, Jean Valério. É que veio à tona, durante a inquirição, a quantas andam os contratos na área de publicidade do município que alimentam inclusive pagamentos de montantes variados repassados a blogueiros e jornalistas da cidade. Alguns dos vereadores da CEI chegaram a afirmar, de posse dos valores, que ali se explicava facilmente as críticas endereçadas aos parlamentares que investigam a Prefeitura e, por outro lado, as menções elogiosas à gestão municipal.
Logo de início, Jean Valério foi indagado pelo relator da CEI, vereador Júlio Protásio (PSB), sobre possíveis privilégios aos dois meios de comunicação da família da prefeita Micarla de Sousa (PV) - a TV Ponta Negra e a 95 FM - quando da feitura dos contratos. Ele negou. A emissora da família da chefe do Executivo recebeu em 2011 R$ 800,9 mil, segundo a relação de conferência bancária da Secretaria de Planejamento, Fazenda e Tecnologia da Informação (Sempla), a qual teve acesso a reportagem da TRIBUNA DO NORTE.
Júlio Protásio questionou ainda sobre R$ 16 mil reais pagos ao jornalista Nélio Júnior, que foi assessor especial da prefeita Micarla de Sousa por alguns meses. "Qual o vínculo do repórter que continua recebendo esse pagamento mesmo vivendo atualmente no Canadá?", interrogou o peessebista. O secretário explicou que o montante é pago à agência "Duca Comunicação" e que esta não mais pertence ao jornalista. Jean Valério disse também Nélio Júnior divulgava as ações de Natal no site de sua propriedade e de uma revista. "Ele conseguiu página inteira para divulgar a cidade em jornais como Folha de São Paulo", emendou Jean. "No relatório que farei vou recomendar suspender esse contrato porque isso é uma imoralidade. O jornalista fora do país e a empresa recebendo R$ 16 mil", completou o vereador.
O depoimento seguiu tenso, até que surgiu o nome da blogueira Thaisa Galvão e o clima esquentou ainda mais. A vereadora Sargento Regina (PDT) achou alto o valor recebido mensalmente pela jornalista que é de R$ 12,5 mil/mês quando, segundo ela, "profissionais com muito mais credibilidade são remunerados com muito menos". "Como explicar esse trabalho de 'excelência' que ela faz", provocou Mary Regina. Jean Valério mais uma vez justificou os pagamentos realizados: "Esse não é um serviço ilegal e estamos dando transparência neste momento. Eu quero dizer que a nossa escolha se dá pelo acesso e visibilidade do espaço e também de acordo com a proposta do proprietário". O secretário ressaltou que o blog de Thaisa Galvão já foi acessado por mais de 16 milhões de pessoas, o que credenciaria a receber tal valor.
Também houve questionamento sobre o pagamento ao jornalista Túlio Lemos. A vereadora Júlia Arruda (PSB), presidenta da CEI, perguntou ao secretário sobre o pagamento no valor de R$ 18,5 mil/mês com destino à agência de nome "Premium". Jean acabou admitindo que a empresa pertence ao jornalista citado e confirmou a fatura afirmando que esta se refere ao patrocínio de um noticiário de telejornalismo e ao programa "Expressão Política", que tem como âncoras, além de Túlio Lemos, o jornalista Marcos Aurélio Sá.
Um suposto patrocínio no valor de R$ 5 mil foi creditado ao jornalista Ricardo Rosado de Holanda, dono do site FatorRRH. "Isso vem para mostrar a 'isenção' dele, que é inclusive comentarista da TV Ponta Negra, quando vem desqualificar a CEI", criticou Júlia Arruda.
Também foram citados o colunista Jota Oliveira, da TN, que recebeu R$ 10 e R$ 6 mil; o blogueiro e fotógrafo Márlio Forte, que recebe entre R$ 1,8 a R$ 3 mil.
Fonte: Tribuna do Norte
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