Cruzamento de datas reforça as suspeitas de irregularidades em negócios do governo ferderal com a VTC Log
Um cruzamento de datas reforça as suspeitas de irregularidades em negócios firmados pelo governo com a empresa de logística VTC Log, investigada pela CPI da Covid. Boletos de pagamento emitidos pela agência de viagens Voetur Turismo em nome do ex-diretor de Logística do Ministério da Saúde Roberto Dias começaram a ser quitados 11 dias depois de uma manobra que transferiu um contrato milionário da VTC Log para a área que ele comandava na pasta. A Voetur Turismo e a VTC Log pertencem ao mesmo grupo empresarial.
A CPI afirma ainda que os pagamentos dos boletos em nome de Dias foram feitos pela VTC Log. O depoimento ontem de Ivanildo Gonçalves da Silva, que trabalha como motoboy para a VTC Log, reforçou as suspeitas. Ele confirmou à CPI que realizou diversos saques de altas quantias a mando da empresa. O maior deles foi de aproximadamente R$ 400 mil. A comissão já havia mostrado na terça-feira que idas de Ivanildo a agências bancárias para realizar os saques coincidem com as datas de pagamentos dos boletos de Dias. Ontem, a CPI decidiu quebrar o sigilo fiscar de Ivanildo.
A transferência do contrato da VTC Log para o guarda-chuva de Dias aconteceu no dia 7 de maio. A quitação da primeira fatura em nome do ex-diretor ocorreu no dia 18 do mesmo mês. Os boletos em questão não especificam a quais serviços prestados pela Voetur eles se referem. A CPI investiga se Dias recebeu itens como passagens ou pacote de viagens para beneficiar a empresa.
Naquele 7 de maio, Roberto Dias assinou um termo de sub-rogação do contrato que a VTC Log tem com o ministério para o transporte de insumos como remédios e vacinas no valor de R$ 573 milhões, com vigência até 2023. A sub-rogação é um instrumento que permite a migração de um contrato entre dois departamentos de um órgão público. De 2018 a maio de 2020, o contrato da VTC Log ficava sob a responsabilidade da Coordenação-Geral de Material e Patrimônio, vinculada à Secretaria Executiva da pasta.
A equipe da Polícia Federal que auxilia os trabalhos da CPI identificou nove boletos da Voetur Turismo no nome de Dias, sinalizando que ele seria o beneficiário dos serviços. Todos foram quitados entre 18 de maio e 6 de julho, mas em nenhum dos casos o pagamento saiu da conta do ex-diretor.
A CPI descobriu ainda que em pelo menos três ocasiões tais transações foram feitas em uma agência do banco Bradesco no mesmo dia em que o motoboy Ivanildo Silva esteve no local. Durante seu depoimento à comissão, ele confirmou que costumava sacar dinheiro em espécie para a VTC Log e que chegou a retirar mais de R$ 400 mil de uma só vez.
— No início, uma vez eu saquei o valor de R$ 400 e poucos mil, na boca do caixa — disse Silva, ao ser questionado sobre o maior volume que ele lembra ter sacado.
Questionado pelos parlamentares se já havia feito transações financeiras que envolvesse Roberto Dias, o motoboy disse que não se recordava.
Ainda durante o depoimento, ele contou que a funcionária Zenaide de Sá Reis, do Departamento Financeiro da VTC Log, dava cheques para ele retirar no banco. Todo o contato entre os dois, conforme o relato, era feito pessoalmente. O motoboy disse que, após sacar as quantias e fazer os pagamentos, ele devolvia o que sobrava para Zenaide.
A CPI decidiu então quebrar os sigilos telefônico, fiscal, bancário e telemático tanto de Silva quanto de Zenaide, que foi convocada a prestar depoimento.
Alguns senadores, como Randolfe Rodrigues (Rede-AP) e Simone Tebet (MDB-MS), apontaram a coincidência de datas entre o pagamento de boletos em nome de Roberto Dias e as idas do motoboy à agência bancária onde isso foi feito. Randolfe apresentou, inclusive, imagens de uma pessoa numa agência do Bradesco em Brasília, e Silva confirmou ser ele.
Os parlamentares solicitaram o acesso ao telefone celular do depoente. Como o motoboy se recusou a fornecer, a CPI aprovou um pedido para que a Justiça autorize a apreensão do aparelho.
Fonte: O Globo
Foto: Pablo Jacob
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