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sexta-feira, 24 de julho de 2020

ALLAN DOS SANTOS, UM BLOGUEIRO FRUSTRADO

Alvo de investigações por usar métodos heterodoxos para defender o governo, ele agora sente as dores de ter sido trocado pelo centrão.

Allan dos Santos, dono do site Terça Livre, é um defensor visceral do presidente Jair Bolsonaro. Sua defesa é tão incondicional que não titubeia nem mesmo depois que ele passou a ser investigado e alvo de busca e apreensão nos inquéritos que apuram ataques ao Supremo Tribunal Federal (STF) e a organização de manifestações antidemocráticas. Mas até a devoção mais exaltada tem seus limites — e o centrão parece ser o de Santos. “Tutorial de Brasília: agrade ao centrão. Não critique o divino STF. Deputados são importantes, mesmo sem fazer nada. Esqueça ideologia, pois bom mesmo é ser técnico, tipo (André) Mendonça e Jorge (Oliveira). Discordou disso: você só merece ser alguém com a camisa do Brasil quando precisarem.” A reflexão, destilando ressentimento, foi postada no Twitter em junho. Depois dela, um rosário de queixas de sua autoria se seguiu na arena das redes. Estaria o fiel servo da militância mudando de lado?
Santos criticou o general Eduardo Pazuello, interino do Ministério da Saúde, por ter conversado ao telefone com o ministro Gilmar Mendes, do STF. Diz abertamente que Luiz Eduardo Ramos, ministro da Secretaria de Governo, boicota os conservadores. Sugeriu a demissão do ministro da Justiça, André Mendonça, e faz ataques diários à ala militar como um todo, a quem se refere como “tecnocratas” — adjetivo que, em sua concepção, seria pejorativo. O perigo que se avizinha, na visão de Santos, é que seja instaurado um “governo tecnocrata”, que não leve em conta a ideologia. Bolsonaro, neste caso, seria uma espécie de marionete tutelada pelos militares, mas sobretudo por Ramos, que ele diz acreditar ser o grande artífice da entrada do centrão no governo.
Sua fidelidade começou a se abalar quando o ex-ministro da Educação, Abraham Weintraub, foi demitido. Santos foi até Bolsonaro para uma conversa. Munido da boa-fé dos inocentes, disse ao presidente que é possível governar sem dar cargos ao centrão, mantendo apenas o apoio popular e usando esse apoio para pressionar o Congresso. Relatou a pessoas próximas que saiu da conversa com a sensação de que não foi ouvido. A frustração se somou ao sentimento de abandono que experimentou desde que sua casa foi alvo da Polícia Federal. Confidenciou a amigos que não acha que o núcleo jurídico de Bolsonaro esteja interessado em defendê-lo.
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Fonte: Natália Portinari/Época
Foto: Gabriela Biló/Estadão Conteúdo

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