Ele foi comprado pelo Ministério da Saúde.
Análises feitas em um laboratório americano comprovaram a alta presença de impurezas em um remédio chinês, usado contra um tipo de leucemia infantil, que foi comprado pelo Ministério da Saúde. A denúncia foi publicada no Fantástico.
Funcionários do Centro Boldrini, hospital de referência no tratamento do câncer infantil, iniciaram uma campanha pelo remédio com eficácia comprovada. A polêmica começou quando o Ministério da Saúde decidiu trocar o fornecedor de um dos principais medicamentos usados contra um tipo de leucemia. O hospital se recusa a usar nos pacientes a asparaginase, importada da China.
“Primeiro porque é um produto que não vemos em nenhum congresso internacional, completamente desconhecido. Segundo, quando recebemos o Ministério da Saúde e eu fui ler a bula do remédio, me chama a atenção um monte de improbidades técnicas de redação. O que me faz perguntar: a Vigilância Sanitária leu essa bula?”, questiona Silvia Brandalise, oncologista da Sociedade Brasileira de Oncologia Pediátrica.
A asparaginase é uma enzima que retira os principais alimentos das células malignas. É usada no tratamento da leucemia linfoide aguda, que ataca principalmente crianças e jovens. Deve ser aplicada principalmente nas primeiras semanas de tratamento, para destruir todas as células leucêmicas. Se 1% dessas células sobreviver após esta primeira fase, a chance de cura da doença cai para menos da metade.
Por conta própria, o hospital resolveu encomendar análises comparativas entre o remédio chinês e o usado até agora. O resultado do teste do laboratório americano acaba de ser divulgado e mostra que 40% do que há no frasco do remédio chinês estão contaminados por proteínas, contra apenas 0,5 % do remédio alemão.
“Isso significa que o remédio não foi bem preparado, que o controle de qualidade da empresa não está bem estabelecido. Agora, o que isso vai causar no paciente, tem várias possibilidades, pode ser toxidade, pode ser reações ao efeito do medicamento”, afirma Andres Yunes, pesquisador do Laboratório de Biologia Molecular, do Centro Infantil Boldrini.
O laudo confirma as análises já feitas pelo Laboratório de Biociências, vinculado ao Ministério da Ciência e Tecnologia. O último lote de asparaginase do Centro Boldrini acabou há 15 dias. Só neste mês, 40 pacientes que estão iniciando o tratamento precisam do remédio com urgência e não sabem ainda se vão conseguir tomar estas primeiras doses.
“A burocracia brasileira diz que o hospital é proibido de comprar um remédio no exterior sem autorização da Vigilância Sanitária e quando tem um similar nacional, aí não autoriza”, completa Silvia.
Giovana Ferreguette, de 14 anos, está com uma dose da asparaginase atrasada e se preocupa ainda mais com quem está iniciando o tratamento: “Pra mim fez efeito e quero que dê efeito em outras pessoas também”.
A mãe dela, Michele Ferreguette, pensa em entrar na Justiça para conseguir importar o remédio por conta própria: “É muito preocupante saber que ela está sem tomar a medicação, porque as chances de cura são grandes, desde que o tratamento seja feito corretamente. E eu não quero que a chance dela seja diminuída”.
Por email, a Vigilância Sanitária disse que o Ministério da Saúde é quem está comentando o caso. O Ministério da Saúde informa que acabou de receber o laudo do Centro Infantil Boldrini e vai se posicionar assim que avaliar o relatório. Segundo o Ministério, o remédio chinês está sendo usado com bons resultados em 11 estados.
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