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sábado, 16 de fevereiro de 2013

A IMPRENSA OFICIALÍSSIMA.

Com a troca de governo na maioria das prefeituras do país, grande parte da imprensa também tem novos patrões. É prática antiga, principalmente no interior, os veículos de comunicação local sobreviverem das verbas, jabás e mimos oficiais em troca do silêncio. Em alguns casos, o dono vira até servidor público com cargo de confiança do prefeito. São elementos contratados para zelar pela imagem do mandatário, do seu CPF e de seus chegados, com o dinheiro do contribuinte. De quebra, seus veículos de comunicação são também agraciados com generosas verbas públicas. Alguns destes pseudojornalistas são incluídos na folha de pagamento da prefeitura para silenciá-los, sem qualquer outro favor.
Nada tenho contra jornalistas que prestam assessorias e/ou trabalham para o governo. Pelo contrário. A assessoria de imprensa é um nicho de mercado muito valorizado e respeitado. O dia em que decidir não mais mexer com jornal, vou tentar ser assessor também porque vivo do jornalismo e não sei fazer nada na vida além disso. Sou contra o dublê de assessor de imprensa e repórter ao mesmo tempo – um servindo ao rei e o outro tentando agradar os súditos – porque isso é impossível. Não dá para acender duas velas na nossa profissão. Ou servimos ao interesse público, que é a missão do jornalista que se dedica à reconstituição de fatos aleatórios, ou ao interesse privado.
Essa dualidade é muito ruim para a democracia. O mais revoltante é que a classe jornalística não fiscaliza nada e com isso permite que falsos formadores de opinião emplaquem, oficialmente, seu veículo de aluguel no governo. Tudo – CNPJ e CPF – sustentado pelo povo. O bom da democracia é a liberdade que a imprensa tem para fiscalizar e denunciar os desmandos no poder público. É missão dos veículos de comunicação tratar os detentores de cargos eletivos com olhar crítico de quem tem a obrigação de vigiar o dinheiro do contribuinte. Se isso não ocorre, por conta da imoralidade, para que serve então a liberdade de escrever e falar em nosso meio?
“Propriedade intelectual”
O jornalista tem o direito de expressar o livre pensamento, contra ou a favor, como ocorre com qualquer cidadão, porque este é um direito garantido no artigo 5º da CF (fato este que levou, inclusive, o STJ a não exigir mais o diploma para o exercício da profissão, exatamente por entender que qualquer cidadão pode escrever ou falar o que bem desejar neste país). Sem comentários.
É aquele negócio. Quem pode tudo não pode nada. O jornalista não pode, de jeito algum, omitir crimes ou abdicar de suas obrigações deontológicas – e uma delas, talvez a mais importante, é a de fiscalizar os homens públicos. Não se pode admitir, por exemplo, que o dono de um jornal altere o contrato social da empresa para prestar serviços ao governante, porém imbuído da condição tácita de proprietário do veículo que é gerido de forma a atender o interesse do agente público que o contratou.
Falo isso com conhecimento de causa. Não vou dar nomes porque essa é uma prática tão comum no Brasil que grande parte da imprensa, inclusive das capitais, costuma ter a sua “propriedade intelectual” alterada de quatro em quatro anos ou conforme a grana que entra no bolso. Tudo às escondidas, embora a maioria destes incestos seja de domínio público.

Fonte: José Cleves/Observatório de Imprensa

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